quarta-feira, novembro 24, 2004

Presenças

V

O quarto estava escuro. Antonio ainda hesitou em acender a lâmpada. Alguma coisa escurecia por dentro e lâmpadas nada resolveriam...
Arrumou as malas. Deveria avisá-la de que estava partindo? Voltaria algum dia? Fechou o zíper da última mala, colocou-a sobre a poltrona. Por fim, apagou a lâmpada e deitou-se. Mas não dormiu.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Chove

Faz frio no Rio e não deveria. A chuva - fina e constante - nos recebe pela manhã ao acordar. As cores cinza da cidade nos saúdam. Tempo de pensar e de amadurecer. As pessoas caminham com calma - algumas trazem guarda-chuvas. Outras não têm medo de se molhar. Tão pouco.

quinta-feira, novembro 18, 2004

Calmaria

Os dias de chuva chegaram.
A chuva varre a cidade. A tarde desfolhada se apresenta.
O que precisamos, pensou, é de calmarias.

E, de repente, a curva

Imaginá-la distante parte meu coração.
Mas
nada que sabê-la tão feliz não cole.

terça-feira, novembro 09, 2004

Presenças

IV

A chuva fina embaçava a janela. O pequeno jardim lá fora era pura lama. No horizonte o dia escurecia. Hoje Antonio não veio, pensou. Fez o café mas pensou que era inútil: Antonio não estava.
Pequenas gotas escorriam na janela.

Apenas por um momento

Deixe o vento levar as folhas que você segura.
Chegue atrasado em algum lugar
mas peça desculpas.
Acompanhe uma criança pela rua pulando os
quadradinhos.
Feche os olhos e deixe alguém te guiar.
Grite muito alto até ficar cansado.
Se algo te entristecer
chore.
Muito.
Até não saber mais o motivo.
Encontre um amigo com quem possa conversar.
Conte todos os seus maiores podres.
Ele vai entender...
Passe seu perfume preferido depois do banho da noite.
Ligue para alguém com quem não fala há muito tempo.
Neste Natal, tente enviar cartões.
De papel.
Faça desenhos e cole na sua geladeira.
Assita tv deitado no chão.
Qualquer coisa, de preferência inútil.
Faça uma surpresa.
Separe seus filmes preferidos e assista.
Saia para dançar.
Queime calorias.
Beba muita água.
Dê muitas risadas.
E tente,
mesmo que apenas por um breve momento
quase imperceptível,
imaginar que não há nenhum problema
e que tudo vai dar certo.