domingo, novembro 19, 2006

Os lugares que visito não me visitam. Ando aqui carregando este pesado silêncio. As palavras que desembrulho não me notam. A cada nota um desafi(n)o. Andar a passos breves nos evidencia: para entender há de explicar...

Só para ver

Deixaram de olhar pela janela.
Quem sonha espera. O tempo a tecer nuvens lá fora. Acorda. É agora.
E saíram enfim pra ver.

Cena

Antônio entra e bate a porta. Sem sutilezas. Chega cansado do dia que o percorreu. Helena, sentada no sofá num momento de trégua das domésticas tarefas observa o marido de soslaio. Espera uma palavra qualquer de inesperada delicadeza. Não será hoje. Também não.
Antônio banha-se demoradamente enquanto Helena assiste a novela. Na tela, declarações ensaiadas invadem a cena. Queria Helena também ser essa rosa delicada, merecedora de palavras e gestos. Sonha acordada com aquilo que - sabe - não terá. Apenas sonha; não espera. Não é ingênua.
Resigna-se Helena com a louça da noite por lavar. Eterno exercício de paciência. Nada acaba.
Antônio se deita a seu lado, exausto. Diz meias palavras. Guarda para si as dificuldades do cotidiano, os aborrecimentos do trabalho. Helena compreende e agradece em silêncio a pequena sutileza do marido. Aconchega-se no seu peito e ele a abraça. Faz muito calor neste pequeno apartamento do subúrbio do Rio. Ainda assim, marido e mulher dormem entrelaçados.