sábado, dezembro 29, 2007

Novo

"A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida"

Vinícius de Moraes

Balanço (Multimídia) de Final de Ano

Como sempre... os melhores do ano... :)

Livros:

- Olhai os Lírios do Campo (Érico Veríssimo)
- Incidente em Antares (Érico Veríssimo)
- O Ano da Morte de Ricardo Reis (José Saramago)
- História do Cerco de Lisboa (José Saramago)

Filmes:

- Little Miss Sunshine
- Scoop
- O Cheiro do Ralo
- Meu Melhor Amigo
- O Labirinto do Fauno
- Ponte para Terabítia
- Não por Acaso
- Tropa de Elite
- O Passado
- Viagem a Darjeeling
- A Vida dos Outros

Shows:

- Los Hermanos
- Nação Zumbi

Música (CD's que eu mais ouvi):

- I Am a Bird Now (Antony and the Jonhsons)
- Fome de Tudo (Nação Zumbi)

terça-feira, dezembro 18, 2007

Sapatos Vermelhos

III

Ela teria beijado o primeiro que tentasse. Naquela noite, perdida na multidão antes que começasse o show. Trazia um copo de plástico na mão, o vinho já esquentando naquela noite tão fria. Tentou arrastar alguém consigo, não conseguiu. Pediu a um amigo que fosse com ela, ele não foi. Falou com outras pessoas... Ninguém. Seria possível que ninguém do seu convívio gostasse da banda mais pop de que ela gostava? Pois então... Sozinha na cidade, resolveu ir mesmo assim. E foi. Não estava acostumada a beber de modo que o vinho a pegou logo no primeiro gole. E foi aí que resolveu não resistir... Mas ninguém veio falar com ela... Com o copo na mão, um pouco atônita tentou vasculhar em si mesma o que a fazia tão pouco atraente... Olhou para os sapatos vermelhos... Certamente não eram eles... Pelo menos emprestavam um certo quê de interessante... Talvez a calça jeans já gasta, de um modelo ultrapassado. Certamente, que calça era aquela?! Porque ainda guardava aquele trapo? O jeans já claro pelos longos anos de uso, um pouco apertado nos quadris e na bunda... porque tinha engordado alguns poucos quilos... E a camiseta branca? Completamente lisa... Nada por dizer, nenhum estilo para afirmar... Pensou nos colegas do trabalho reclamando de suas mulheres frescas, consumistas, hiper-maquiadas... Não estava maquiada... não era fresca e sequer usava as roupas da moda... E portanto, não havia ninguém que olhasse para ela. Soltou uma gargalhada enquanto elaborava o pensamento tortuoso. Derramou um pouco de vinho na areia... A tinta colorindo o chão. Achou aquilo bonito, pôs os pés calçados de vermelho ao lado - alguma coisa combinava pelo menos. Nenhum brinco, pulseira, anel, relógio, tatuagem de estrelinha no ombro, piercing nas sobrancelhas... Nada. O show de abertura começou e ela não percebeu. Olhou pro lado porque notava um olhar forte em sua direção mas o menino bonito de blusa azul olhava através dela. Neta de vidraceiro, pensou, continuo transparente...
Quando virou pra frente viu um outro rapaz conversando com uma menina... Linda... toda arrumada como ela jamais saberia imitar, nem que tivesse todos aqueles acessórios. Deixou uma lágrima pular dos olhos enquanto tentava sorrir. Jogou o resto do vinho fora na areia da árvore já manchada. Caia uma chuva fina e os primeiros acordes da banda principal já podiam ser ouvidos. Se aproximou do público. Um homem de meia idade acompanhado de uma amiga convida: ei, você não vai assitir ao show sozinha, vai? Fica aqui com a gente. E ela ficou.