quinta-feira, setembro 10, 2009

Chegada

A chuva apertava quando passei pelo portão.
Como de costume, Gabriel me abraçou longamente, sem se importar com os pingos grossos da chuva, ou as lágrimas que escorriam em meu rosto molhando agora seus cabelos...

sexta-feira, julho 31, 2009

Forte

Quando nos vimos pela última vez, ele me disse: você é forte.
Foi a pior coisa que poderia ter dito...

segunda-feira, junho 08, 2009

terça-feira, maio 26, 2009

Silêncio

1.
Te vejo a apenas alguns metros de distância. Proximidade mentirosa alimentando esse silêncio grosso e intransponível como um muro de concreto. Me divirto curiosamente observando as pessoas. O que você diria sobre a mulher histérica ali ao lado? O que diria sobre essas pessoas encenando todos os dias esse teatro estéril repetindo a mesma sopa de letrinhas e palavras que nada dizem?

Mas você não diz nada.

2.
Você passa por mim com o rosto crispado. Estou próxima a janela como quem espera. Em silêncio, você se dirige novamente à sua mesa onde escreve um inventário de palavras desconexas. Os cômodos jazem silenciosos pela casa. São onze horas da manhã e, até que o dia termine, você ainda há de passar três ou quatro vezes por aqui.

Mas você nada dirá.

3.
Ele entra no quarto e a vê, nua, deitada no chão. De lado, o braço formando um ângulo e sustentando o rosto com a mão. O resto de sol do fim da tarde penetra furtivamente pela rede e vai deitar sobre ela a luminosidade apagada de um dia que se põe. Ela tem o rosto marcado por 2 lágrimas. Ele não as vê mas compreende sua tristeza pela postura do corpo, pelo longo silêncio, por aquela cor avermelhada que é como a dor do sol quebrando o azul.
Quer confortá-la.

Mas ele não diz nada.

terça-feira, abril 28, 2009

Depois do Fim

Espalha os cacos pela casa enquanto caminha.
Não importa.
Já não importa.
Esperou pacientemente
que o dia terminasse.
E então compreendeu
aquilo que já adivinhara:
que aquele sim fora um não
que o fim já havia passado
e agora era um tempo além
daquilo que não se tem.

quinta-feira, abril 23, 2009

Morte

Restou a desordem inesperada das horas graves: armários escancarados, gavetas remexidas, documentos espalhados.
Alguém procura a senha do banco, ligações pro gerente conhecido. Gravidade pela casa. Música não pode, diz minha mãe.
Não quis ir ao enterro. Não queria essa lembrança pra desenterrar mais tarde. Mas, de certa forma, foi um erro: continei achando que meu avô ainda chegaria do bilhar. E continuei levantando de sua poltrona preferida toda vez que o portão da rua rangia.

sexta-feira, abril 17, 2009

Sábado

Você já não sabe nada de mim.
Não sabe que ele me beijou numa tarde ensolarada.
Deitados no chão
nós nos cegávamos de céu.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Viagem

III

Entro no ônibus, atrás de uma menina de vestido florido. Acha graça pensando há quanto tempo não vejo alguém de florido. Parece que florir não está na moda. Eu gosto. Enquanto estico as notas para o trocador, checo se há assentos vazios: ao lado de um homem que parece ler (mas esse descarto logo porque ele está na janela) e... ah, sim... ao lado de um menino de boné que está no corredor. Sento ao seu lado e abro a janela que estava completamente fechada. Está frio, venho de camiseta mas preciso sentir o vento no meu rosto. Vou olhando a orla, as árvores se agitando, aquela escuridão mais a frente que de quando em quando brilha e eu sei que é o mar... Divirto-me com um trevo próximo ao aeroporto, aguardo sem pressa o monte de gente que salta e embarca na Praça XV. O mar ali ainda como se quisesse acompanhar uma parte da minha viagem. Passo pelo CCBB iluminado, tudo parece sorrir porque eu me sinto feliz, simplesmente porque resolvi estampar um sorriso no meu rosto. Enfrentamos um pequeno congestionamento na Presidente Vargas, seguimos em direção à Praça da Bandeira e lá chegando viramos em direção a Tijuca. Uma senhora no banco de trás reclama da demora do sinal. Eu gosto: um homem faz malabarismos com bastões em chamas. Usa uma roupa colorida que lembra um palhaço estilizado. Me recrimino por ter, de novo, deixado a câmera em casa. O sinal abre e prosseguimos... Antes de virar no Maracanã, eu desço me despedindo mentalmente dos meus companheiros de viagem. Dou conta que o homem que lia e a menina do vestido já não estão. Me divirto a pensar que podem ter descido juntos dispostos a continuar uma conversa casual iniciada no ônibus...

terça-feira, janeiro 06, 2009

Resistência

Quanto à reforma, confesso que fico triste. Não sei bem porquê. Acho que me dá uma nostalgia de pensar que, de agora em diante, as crianças hão de ler o que escrevo como eu lia as palavras de meus avós: uns circunflexos desnecessários obsoletando as palavras...