III
Entro no ônibus, atrás de uma menina de vestido florido. Acha graça pensando há quanto tempo não vejo alguém de florido. Parece que florir não está na moda. Eu gosto. Enquanto estico as notas para o trocador, checo se há assentos vazios: ao lado de um homem que parece ler (mas esse descarto logo porque ele está na janela) e... ah, sim... ao lado de um menino de boné que está no corredor. Sento ao seu lado e abro a janela que estava completamente fechada. Está frio, venho de camiseta mas preciso sentir o vento no meu rosto. Vou olhando a orla, as árvores se agitando, aquela escuridão mais a frente que de quando em quando brilha e eu sei que é o mar... Divirto-me com um trevo próximo ao aeroporto, aguardo sem pressa o monte de gente que salta e embarca na Praça XV. O mar ali ainda como se quisesse acompanhar uma parte da minha viagem. Passo pelo CCBB iluminado, tudo parece sorrir porque eu me sinto feliz, simplesmente porque resolvi estampar um sorriso no meu rosto. Enfrentamos um pequeno congestionamento na Presidente Vargas, seguimos em direção à Praça da Bandeira e lá chegando viramos em direção a Tijuca. Uma senhora no banco de trás reclama da demora do sinal. Eu gosto: um homem faz malabarismos com bastões em chamas. Usa uma roupa colorida que lembra um palhaço estilizado. Me recrimino por ter, de novo, deixado a câmera em casa. O sinal abre e prosseguimos... Antes de virar no Maracanã, eu desço me despedindo mentalmente dos meus companheiros de viagem. Dou conta que o homem que lia e a menina do vestido já não estão. Me divirto a pensar que podem ter descido juntos dispostos a continuar uma conversa casual iniciada no ônibus...
sexta-feira, janeiro 30, 2009
terça-feira, janeiro 06, 2009
Resistência
Quanto à reforma, confesso que fico triste. Não sei bem porquê. Acho que me dá uma nostalgia de pensar que, de agora em diante, as crianças hão de ler o que escrevo como eu lia as palavras de meus avós: uns circunflexos desnecessários obsoletando as palavras...
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