domingo, dezembro 31, 2006

Balanço (Multimídia) de Final de Ano

Seguindo a idéia do ano passado, vou listar aqui os livros que li e os filmes que vi em 2006 que mais me marcaram.
Infelizmente, 2006 não foi um ano de muitas descobertas na música, como 2005... Mas não posso reclamar: consegui colocar a resolução de ano novo em prática - ler mais e viajar mais. Foi ótimo. Também fiz resoluções interessantes para 2007. Que ele venha pois, com cores e alegrias.

Livros:
- Noites Brancas (Fiódor Dostoiévski)
- Um Copo de Cólera (Raduan Nassar)
- Crônica de uma Morte Anunciada (Gabriel Garcia Márquez)
- Relato de um Náufrago (Gabriel Garcia Márquez)
- O Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel Garcia Márquez)
- A Mão Esquerda da Escuridão (Ursula K. Le Guin)
- Olhai os Lírios do Campo (Érico Veríssimo)
- Humano, Demasiado Humano (Friedrich Nietzsche)
- A Jangada de Pedra (José Saramago)
- Levantado do Chão (José Saramago)

Filmes:
- Crash
- Terra Fria
- Uma Vida Iluminada
- O Libertino
- O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Congresso Internacional do Medo

"Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, dezembro 25, 2006

domingo, dezembro 24, 2006

Passagem do Ano



"O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o
[ calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória,
[ doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o
[ clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do
[ acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos
[ séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras
[ espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia."

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Alégrima

Não percebes mais o olho
prenhe de lágrimas...
Está lá a lágrima
invisível.
E tu não notas.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

De Vendas nos Olhos mas com o Coração à Mostra

É dentro de mim que mora isso que eu desconheço. Essas frases proferidas sem paixão. Palavras feitas, tecidas de retalhos alheios. É dentro de mim que está: isto que interroga sem sossego. Este silêncio (re)provando. São estes os meus mistérios.
Desvenda.

A Última Gota

Chove...
Tanta água pra lavar aquilo que não pode -
rugas, preocupações, contas que vencem...
Continua aqui no meu peito
esse aperto imensurável.
Chove.

Incidental

O vento balança cortinas e certezas.
Tu não estás.
Ganho
mas não estou feliz...
Desejar o que desconhecemos
pode ser bem perigoso...

domingo, dezembro 03, 2006

À Espera

V

Chego à casa. Desato os nós dos sapatos, não os do pensamento. Resigno-me. É sexta-feira. Maria deixou a casa cheirando a limpo. Olho em redor. Pequenas coisas se calam. Nada aconchega. Longe de tudo, de minha irmã que me sorri pés ao alto na foto, nessa cidade em tudo corre para lugar nenhum.
Quanto a ela... se foi. Viajou para algum lugar indefinido, desimportante. Sei porque a secretária me informa com seu jeito eletrônico. Nada é ao vivo nesta conversa. Sei que ela está longe mas não posso sentir. Percebo pouco a pouco que tudo que busquei foi uma idéia. A idéia perdeu-se. Já nada sei.
As coisas comportam-se em seus lugares. Essa rigidez educada me aborrece. Olhar-me assim no espelho e ver sempre o mesmo. Os mesmos horários, as mesmas coisas que peço a Maria que faça, o mesmo ônibus, o mesmo itinerário.
Lembro-me então do convite. A casa da praia observando o mar, azul azul no horizonte. Miro o telefone uma única vez: não move um músculo de sua face, não brilham os algarismos... Pouco importa se ela ligar. Tomo um banho surpreendentemente rápido, ponho tenho ou quatro mudas de roupas na mochila e faço um telefonema: a que horas vão sair, ainda é tempo para encontrá-los? Sim, as respostas são todas afirmativas... Uma sorte qualquer repentinamente me sorri. Pego as chaves, fecho as janelas, despeço-me por um final de semana deste apartamento frio. Dou adeus ao telefone... sem sequer mirá-lo.