domingo, dezembro 03, 2006

À Espera

V

Chego à casa. Desato os nós dos sapatos, não os do pensamento. Resigno-me. É sexta-feira. Maria deixou a casa cheirando a limpo. Olho em redor. Pequenas coisas se calam. Nada aconchega. Longe de tudo, de minha irmã que me sorri pés ao alto na foto, nessa cidade em tudo corre para lugar nenhum.
Quanto a ela... se foi. Viajou para algum lugar indefinido, desimportante. Sei porque a secretária me informa com seu jeito eletrônico. Nada é ao vivo nesta conversa. Sei que ela está longe mas não posso sentir. Percebo pouco a pouco que tudo que busquei foi uma idéia. A idéia perdeu-se. Já nada sei.
As coisas comportam-se em seus lugares. Essa rigidez educada me aborrece. Olhar-me assim no espelho e ver sempre o mesmo. Os mesmos horários, as mesmas coisas que peço a Maria que faça, o mesmo ônibus, o mesmo itinerário.
Lembro-me então do convite. A casa da praia observando o mar, azul azul no horizonte. Miro o telefone uma única vez: não move um músculo de sua face, não brilham os algarismos... Pouco importa se ela ligar. Tomo um banho surpreendentemente rápido, ponho tenho ou quatro mudas de roupas na mochila e faço um telefonema: a que horas vão sair, ainda é tempo para encontrá-los? Sim, as respostas são todas afirmativas... Uma sorte qualquer repentinamente me sorri. Pego as chaves, fecho as janelas, despeço-me por um final de semana deste apartamento frio. Dou adeus ao telefone... sem sequer mirá-lo.

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