II
Dou uma topada com o pé esquerdo na perna da cama. A lágrima pula teimosa do olho.
Atrasada, entro no banho e não consigo regular a temperatura: ferve de raiva ou gela de solidão a água. Me enxugo já sem paciência. Tem dias que nem ficar triste cai muito bem.
Procuro a escova pela casa e não acho, saio com os cabelos desgrenhados pelo corredor.
Pego uma chuva pelo caminho que estraga a pequena alegria da camurça vermelha de meus sapatos novos. Não há de ser nada - tento me consolar mentalmente.
Pego o ônibus cheio e cansado... Vou sacolejando por mais de uma hora e meia num trânsito sem precedentes para o horário. Depois de dois pisões no pé e um guarda-chuva molhado que destruiu o livro que eu trazia nas mãos, recebo uma cotovelada na cabeça, logo antes de saltar. Os sapatos vermelhos pisam a areia da calçada. Olho a praia em frente, o prédio... Quase não hesito. Atravesso a rua por entre os carros engarrafados, corro em direção à água, jogo o livro na areia e me sento observando as ondas...
Passo a manhã sob a chuva fina e o ar úmido que vem do mar. As ondas entoando como um mantra.
Olho mais uma vez para os sapatos destruídos antes de atirá-los ao mar...
Não há de ser nada.
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