Às vezes, andar pela casa trazia-lhe um peso enorme. Sentia a presença daqueles fantasmas de existências desconhecidas.
Assim, passou os primeiros dias apenas no andar térreo, cuidando da limpeza daqueles cômodos empoeirados pelo tempo e pelo esquecimento.
A cortina da sala se desfez nas suas mãos e ele decidiu não retirá-la por enquanto. Lá fora os vizinhos curiosos disfarçavam olhares pela janela. Fingiu não perceber.
Preencheu seu tempo livre com alvejantes e vassouradas nos cantos do teto. Descobrindo insetos, aranhas e formigas. Tudo parecia ruir.
domingo, abril 17, 2005
segunda-feira, abril 11, 2005
Passado
Ela o encarou e ele sorriu acentuando as rugas em seu rosto. De repente, ela se deu conta: dez anos se passaram desde a última vez em que se viram. O tempo fez suas marcas no rosto daquele homem. Levou um susto e se envergonhou - teria ele percebido alguma reação? alguma expressão rápida demais para que pudesse refrear? Se ele percebeu não deixou transparecer.
Conversaram um pouco. Nada sobre os anos em que ainda se viam. Nada sobre os anos em que ela era uma menina e ele o pai a ouvir suas longas histórias. Não falaram disso. Ambos tinham medo. Falaram apenas sobre o que havia acontecido naqueles últimos anos. O casamento dela, o aprendizado da marcenaria que agora tinha a esperança de que fosse seu novo trabalho fora daquelas grades. Enquanto conversavam ela se surpreendeu: nada sentia por aquele homem. Na verdade, ele não era mais o mesmo homem. Não era o pai que ela havia tido na infância. Aquele pai se perdera. No tempo, no alcoolismo, na violência. Aquele homem a sua frente era apenas um vestígio. Deteriorava. E uma dor aguda, bem fina, invadiu seu coração. Sua tristeza era apenas por ver alguém tão sugado pela vida. Uma mágoa que já não tinha motivos.
Despediram-se apenas com um beijo rápido. O momento não permitia longos abraços como cada um deles talvez pudesse ter esperado. Ou desejado. Ela levantou-se rápido e sem olhar para trás, já lá fora, passou pelo portão. Não podia ajudá-lo, nem sentia-se capaz, e ele já não poderia lhe fazer nenhum mal. Sorriu. Lá fora, uma vida inteira a aguardava. Tudo o que passaram tinha ficado para trás.
Conversaram um pouco. Nada sobre os anos em que ainda se viam. Nada sobre os anos em que ela era uma menina e ele o pai a ouvir suas longas histórias. Não falaram disso. Ambos tinham medo. Falaram apenas sobre o que havia acontecido naqueles últimos anos. O casamento dela, o aprendizado da marcenaria que agora tinha a esperança de que fosse seu novo trabalho fora daquelas grades. Enquanto conversavam ela se surpreendeu: nada sentia por aquele homem. Na verdade, ele não era mais o mesmo homem. Não era o pai que ela havia tido na infância. Aquele pai se perdera. No tempo, no alcoolismo, na violência. Aquele homem a sua frente era apenas um vestígio. Deteriorava. E uma dor aguda, bem fina, invadiu seu coração. Sua tristeza era apenas por ver alguém tão sugado pela vida. Uma mágoa que já não tinha motivos.
Despediram-se apenas com um beijo rápido. O momento não permitia longos abraços como cada um deles talvez pudesse ter esperado. Ou desejado. Ela levantou-se rápido e sem olhar para trás, já lá fora, passou pelo portão. Não podia ajudá-lo, nem sentia-se capaz, e ele já não poderia lhe fazer nenhum mal. Sorriu. Lá fora, uma vida inteira a aguardava. Tudo o que passaram tinha ficado para trás.
segunda-feira, abril 04, 2005
Dialética (*)
"É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste..."
Vinicius de Moraes
(*) Para meu amigo Paulo. Onde andarás?
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste..."
Vinicius de Moraes
(*) Para meu amigo Paulo. Onde andarás?
sábado, abril 02, 2005
Para minha amiga Pe
Minha amiga de tantos anos e tantas conversas recheadas de carolinas... Sentirei saudades, até a próxima visita e desejo que você seja tão feliz quanto tem sido. Temo que, com o passar do tempo, o seu coração apazigue a dor da distância com alguma indiferença. Mas, não podemos lutar contra o invisível.
Mil beijos, da amiga que sentirá muito a sua falta.
Mil beijos, da amiga que sentirá muito a sua falta.
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