Ela o encarou e ele sorriu acentuando as rugas em seu rosto. De repente, ela se deu conta: dez anos se passaram desde a última vez em que se viram. O tempo fez suas marcas no rosto daquele homem. Levou um susto e se envergonhou - teria ele percebido alguma reação? alguma expressão rápida demais para que pudesse refrear? Se ele percebeu não deixou transparecer.
Conversaram um pouco. Nada sobre os anos em que ainda se viam. Nada sobre os anos em que ela era uma menina e ele o pai a ouvir suas longas histórias. Não falaram disso. Ambos tinham medo. Falaram apenas sobre o que havia acontecido naqueles últimos anos. O casamento dela, o aprendizado da marcenaria que agora tinha a esperança de que fosse seu novo trabalho fora daquelas grades. Enquanto conversavam ela se surpreendeu: nada sentia por aquele homem. Na verdade, ele não era mais o mesmo homem. Não era o pai que ela havia tido na infância. Aquele pai se perdera. No tempo, no alcoolismo, na violência. Aquele homem a sua frente era apenas um vestígio. Deteriorava. E uma dor aguda, bem fina, invadiu seu coração. Sua tristeza era apenas por ver alguém tão sugado pela vida. Uma mágoa que já não tinha motivos.
Despediram-se apenas com um beijo rápido. O momento não permitia longos abraços como cada um deles talvez pudesse ter esperado. Ou desejado. Ela levantou-se rápido e sem olhar para trás, já lá fora, passou pelo portão. Não podia ajudá-lo, nem sentia-se capaz, e ele já não poderia lhe fazer nenhum mal. Sorriu. Lá fora, uma vida inteira a aguardava. Tudo o que passaram tinha ficado para trás.
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