terça-feira, novembro 29, 2005

O Sonho

Fiz um desenho na palma de tuas mãos
mas as estrelas caíram como gritos.
Me deixei ficar ali fora no quintal
os riscos atravessando o céu já escuro.
Depois, a noite calada,
alguém disse:
silêncio.
Foi então que o céu se partiu em pedacinhos.
Já não tínhamos sonhos
já não sabíamos as cores
do arco-íris.
Então corremos para a ponte.
Mas tivemos medo.
O outro lado do lago
escondido.
Não queriamos dormir
mas adormecemos.
E no dia seguinte
não havia vestígio.

Um Dia Triste

Veja
não há nenhuma esperança.
O dia amanheceu tristonho
e calado.
Ninguém notou.
Apenas eu.
Quero agora aqueles bancos coloridos
a tarde chuvosa daqueles anos
e as folhas que caiam.
Nada mais.
Mas o céu absorto
me consola:
a noite já principia.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Vitrines

Puxou da bolsa um batom velho
de um vermelho demodê
quase espatifado.
Passou aquilo nos lábios
a vitrine de vidro
como espelho.
O objeto desejado
confundido com o reflexo
daquela realidade.
Fez sua melhor pose de madame
e entrou.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Definição de Existir

Ali, entre aquelas quatro paredes coloridas,
aquele homem.
Deixou-se cair sentado no assoalho.
Alguma coisa pesando por dentro.
Queria alguma delicadeza
mas tudo era solidão.
(Tudo aquilo era eu:
aquele homem oprimido pela tristeza
as 4 paredes coloridas
a própria solidão.)

quarta-feira, novembro 09, 2005

Trevo

Colocou um galinho de arruda atrás da orelha e saiu.

Incoerência Cotidiana

É tarde. Entro num táxi no centro da cidade.
O motorista entra calmamente e me explica que a partida vai demorar.
Acho graça quando ele diz "um tal de GPS, a senhora conhece?", "sei" respondo. Então... "a gente tem que esperar para conectar ao GPS e assim eles" - reparem que eles é uma entidade quase mística - "continuando: assim eles sabem que quem está no carro sou eu e não o assaltante".
Eu acharia tudo isso genial, não fosse o tempo que ficamos parados em plena Rio Branco, que à noite - todos sabem - todos os gatos são pardos. E além disso, mal eu entro no táxi e o taxista me vem com essa novidade. Eu devo mesmo ter cara de uma senhora muito respeitável...

terça-feira, novembro 08, 2005

Ausente

Meus olhos acompanham os movimentos pela janela.
Penso em que horizontes os teus olhos pousam.
Que vês de tua janela?
Que será que fazes agora...
É noite
e eu me deito sem sono a amparar as paredes
com minhas preocupações.
É tarde.
Mas eu não sei por onde tens andado.
O telefone
mudo
me mira
e eu adormeço sem sonhos.

A Chuva e o Mar

A chuva fina tingia de cinza a cidade. Caminhou até poder ver as ondas que se agitavam inquietas. Olhou ao redor; a areia fina e clara, as árvores ao longe balançando lentamente. Sentiu o vento penteando seus cabelos, a maresia incrustando-se na pele.
Olhou de novo o mar. Ah! o mar...