II
Sento ao lado de um homem que lê no ônibus. Vejo as árvores correndo lá fora e tento disfarçar. Corre um vento levemente gelado por estes dias, encontrando meu rosto molhado de lágrimas. Tento em vão enxugá-las passando as mãos no rosto e secando-as no vestido já úmido. Tento rir do ridículo da minha situação: o vestido de flores miudinhas que não gosto mas uso porque ganhei, eu só no meio daquela multidão de gente voltando pra casa, sem conseguir conter o choro. O homem ao meu lado lê concentrado. E me pego torcendo que alguém me veja, mesmo ele e faça algo por mim. Tenho a sensação de que ao chegar no ponto onde devo descer não terei forças. Ele parece voltar o rosto em minha direção... Mas não... terá sido apenas uma impressão. Volta à leitura. Certamente, se eu soluçar ele há de confundir o meu choro com alguma personagem do livro e há de estar surdo para o meu desespero. Sinto que não terei forças... Tento me acalmar e, por alguns breves minutos, consigo conter o choro. Mas, ao virar de uma esquina, sem motivo nenhum, ao respirar mais profundamente como para me refazer dessa tristeza sufocante eis que o suspiro relembra a dor e já não posso conter as lágrimas de novo. Amanhã terei os olhos inchados, o rosto abatido. Tenho vergonha, já não sei como disfarçar... De súbito percebo que quase passei do ponto, levanto bruscamente e agradeço que tenha sido assim - não sabia que teria forças pra me levantar. Desço os degraus com as pernas um pouco fracas, vacilando, e ando a passos largos para casa. Abro a porta, atiro a roupa pelo corredor e me meto num banho bem quente. Exausta, me deixo ajoelhar e sento sobre os calcanhares no chão gelado do boxe... Tenho um fim de semana inteiro pela frente, sozinha neste apartamento e sei que o telefone não há de tocar, seguindo religiosamente sua mudez das últimas semanas. Afogo entre a água do chuveiro e o pranto: apenas os azulejos me escutam.
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