segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Insólito

E o sonho era assim: ele viria em silêncio quando nada mais restasse. Quando tudo fosse pó, vestígio desenganado.
Ele viria quando as flores do jardim tivessem secado. Quando já não houvesse mais jardim. Quando todas as plantas tivessem morrido tristonhas em seus vazos, quando o disco da cantora francesa estivesse mofado e o banheiro adquirisse aquele cheiro medonho dos lugares fechados há muitos anos atrás.
Viria taciturno, encolhido. Calado.
Mas viria.
Quando a geladeira estivesse vazia e desligada, os temperos mofados nos frascos, a alquimia das manhãs desfeitas e as folhas secas espalhadas pelo chão da sala.
Ele viria.
Traria nos olhos algumas rugas tristes que ela jamais conhecera, traria mãos murchas de saudade... Traria nos passos um retorno triste...

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