IV
Duas semanas depois eu a espero num café. Está vinte minutos atrasada quando entra, beija-me levemente e senta ao meu lado. Traz consigo um cheiro adocicado. Sorri. Depois faz o pedido ao garçom - tem pressa. Assim como nossos outros encontros e nossas conversas ao telefone, tudo parece rápido. Menos a espera. Sinto-me sempre aguardando. Esperando. Algo que nem sei ao certo o que pode ser. Pode ser? O que é isso que espero que ela me traga? Que expectativa é esta que não me dou conta. Divago enquanto ela bebe um gole de água mineral. 30 graus no Rio, tempo abafado pedindo chuva. Mas não chove. Ela bebe e me olha curiosa. Não posso explicar aquilo que não entendo.
Me calo. De repente percebo que aquele momento que esperei com tanto entusiasmo se transforma num momento de tensão. Sem tréguas, sem alegrias... Apenas tensão. Procuro espantar aquele pensamento enquanto faço também meu pedido ao garçom.
Comemos e conversamos sobre coisas leves - como anda o trabalho, o tempo, a tv, os últimos filmes no cinema. Falamos sobre nada. Ela me olha e depois desvia o olhar para o salão como se procurasse alguém. Sem notar, acompanho o olhar dela como se pudesse ver alguém se aproximar em sua direção. Ninguém se aproxima.
Quando termina, se despede explicando que o dia está complicado, quase desmarcou o almoço. Levanta e vai embora deixando sua parte da conta paga. Ela também quer algo de mim que eu desconheço.
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