segunda-feira, outubro 30, 2006

Fuga(z)

Você me foge entre os dedos:
palavras sussurradas no ouvido,
carinhos difusos.
Me prega peças diversas.
Fazendo-me crer no amor
que já não tem.
Tudo é picadeiro
encenação de amor
quase verdadeiro.
Mas a verdade se esvai
pouco
a
pouco.
Agora
você já nem nota.

domingo, outubro 29, 2006

Vestígios

Resta-me
um gosto amargo de ausência.
Uma urgência qualquer
de tua presença em mim.
O cheiro dos teus cabelos
na minha lembrança.
Resta-me
essa solidão sem remédios
dentro do peito...

sexta-feira, outubro 20, 2006

*

As ruas, lá fora, como um rio... Denso... Negro...
Sua imagem refletida em cada poça
Busca luz, mas olha pro chão...
Nele as mesmas pedras se repetem
Que já pisou tantas vezes...
O que deseja compreender através delas?
Tudo que consegue ver são as poças de sua própria vida cada vez mais fundas...
Por que chove? Essa tristeza úmida penetrando os poros...
Quanto de si ainda resta?... Tanto já escorreu...
Quer ver através das nuvens. Mas o céu é todo breu.
Ainda em círculos a se perguntar onde foi que se perdeu do sol....
Inútil. tudo chove.
Chove tudo.
As velhas esperanças, a feliz lembrança de criança, todas as agradáveis recordações...
Sem volta... bueiro abaixo...

* Finalmente uma parceria com meu amigo Paulo. :)

Eureka

Por fim, encontraste o fio - pensei.
Aquele que - inútil - andavas procurando
e por isso mesmo não encontraste.
Tudo quanto é difuso te pertence.
Pensei apenas. Não mencionei palavra.
Terás que adivinhar...
Já que o sabias.
Assim era:
o brilho nos olhos disfarçando
o sorriso escondido nas rugas da face.
Por fim,
sabias.

Madrugada Qualquer

A noite se cala entre pingos distantes.
Um orgasmo triste interrompe.
É quase silêncio:
até a noite dorme.
Longe
cachorros latem desenfreados
acordando o bairro.
Tudo é triste quando chove
e é madrugada.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Irremediável

Fecho de novo as portas.
Você espera
perplexo
do lado de fora.
Quer que eu abra de novo
com palavras suaves
e voz receptiva.
Em troca
suas mãos estão vazias.
Você espera
aquela mesma comodidade de sempre:
aquela em que sabendo exatamente
que estamos errados
cometemos o erro.
Com a desculpa simples
e inaceitável
de que não conhecíamos o que era certo.

terça-feira, outubro 17, 2006

Sozinho

Ele se foi.
E eu caminho de novo num túnel escuro.
É solitário aqui
como qualquer caminho.
Caminho.
Mesmo só se aprende.
Essa é a luta:
de que não seja em vão.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Destino

Mandou uma carta
com declarações de amor:
extraviou.
Enviou um email
com bytes carinhosos:
foi rotulado como spam.
Deixou um scrap no Orkut
mas ele não reconheceu a foto da menina
e deletou.
Foi então que desistiu e mandou um postal.
De longe.
Muito longe...

quarta-feira, outubro 11, 2006

Semelhantes

Anda na rua como quem procura.
Todos parecem rumar
na mesma direção:
todos têm pressa.
Mas, quando fala,
ninguém ouve.
Cada um confuso
com suas próprias indecisões.
Aquilo de ouvir
já não funciona.
Cada um carrega atrás de si
seu próprio universo.
Quer falar
mas ninguém ouve.
Quer ouvir
mas ninguém parece ser verdadeiro.
Quer fazer parte
mas fica à parte.
Igual
na diferença
de seus semelhantes.

sábado, outubro 07, 2006

À Espera

IV

Duas semanas depois eu a espero num café. Está vinte minutos atrasada quando entra, beija-me levemente e senta ao meu lado. Traz consigo um cheiro adocicado. Sorri. Depois faz o pedido ao garçom - tem pressa. Assim como nossos outros encontros e nossas conversas ao telefone, tudo parece rápido. Menos a espera. Sinto-me sempre aguardando. Esperando. Algo que nem sei ao certo o que pode ser. Pode ser? O que é isso que espero que ela me traga? Que expectativa é esta que não me dou conta. Divago enquanto ela bebe um gole de água mineral. 30 graus no Rio, tempo abafado pedindo chuva. Mas não chove. Ela bebe e me olha curiosa. Não posso explicar aquilo que não entendo.
Me calo. De repente percebo que aquele momento que esperei com tanto entusiasmo se transforma num momento de tensão. Sem tréguas, sem alegrias... Apenas tensão. Procuro espantar aquele pensamento enquanto faço também meu pedido ao garçom.
Comemos e conversamos sobre coisas leves - como anda o trabalho, o tempo, a tv, os últimos filmes no cinema. Falamos sobre nada. Ela me olha e depois desvia o olhar para o salão como se procurasse alguém. Sem notar, acompanho o olhar dela como se pudesse ver alguém se aproximar em sua direção. Ninguém se aproxima.
Quando termina, se despede explicando que o dia está complicado, quase desmarcou o almoço. Levanta e vai embora deixando sua parte da conta paga. Ela também quer algo de mim que eu desconheço.

O Corpo Resiste

Queria de novo
a lembrança dos instantes felizes
os dias coloridos e repletos
os amigos por perto.
Queria de novo
o sorriso simples de estar vivo
de sentir a vida percorrendo os caminhos
o sentido de se sentir a caminho.
Queria simplesmente
que aquele corpo velho comportasse
a alegria de menino...