"Lá vinha. Da esquina. Que baque ao vê-lo. Figura enorme, esguia. Seus olhos arregalados, a boca escancarada, ofegante. Vinha rápido. Mulato, cabelo grande, magro. Corria com os olhos arregalados, mas não era de medo. Ele estava alerta como um gato. Cada célula do seu corpo respirava desperta e ativa. Olhos esbugalhados de quem sabe tudo o que acontece em volta de si, sem se dar conta disso. E como corria! Cada passada de pernas sua era um salto. Conforme aproximava-se, seus pés descalços ficavam maiores. Conseguia quase ver o encardido das suas solas. Ele ia passar por cima de mim, a pisadas. Tudo o que pude fazer foi desequilibrar o corpo, tentando tirar o máximo de mim do seu caminho. Não consegui nem a metade. Em instantes nos trombamos. E, eu que esperava sentir a marretada de seus calcanhares, recebi as estocadas do joelho e cotovelo. O primeiro na coxa o outro no ombro. Caí com a coxa imóvel, ombro imóvel, tudo imóvel. Minha boca sangrava, não sabia bem porquê. Até que passado um tempinho, pude ver, não sei como, um polícial passar por cima de meu corpo caído. E, foi neste momento que eu percebi que ele não era mais meu. Morri. Fui alvo acidental de um tiro bem intencional. Mas agora é tarde, já foi."
Paulo Lobo
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