Seguindo a idéia do ano passado, vou listar aqui os livros que li e os filmes que vi em 2006 que mais me marcaram.
Infelizmente, 2006 não foi um ano de muitas descobertas na música, como 2005... Mas não posso reclamar: consegui colocar a resolução de ano novo em prática - ler mais e viajar mais. Foi ótimo. Também fiz resoluções interessantes para 2007. Que ele venha pois, com cores e alegrias.
Livros:
- Noites Brancas (Fiódor Dostoiévski)
- Um Copo de Cólera (Raduan Nassar)
- Crônica de uma Morte Anunciada (Gabriel Garcia Márquez)
- Relato de um Náufrago (Gabriel Garcia Márquez)
- O Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel Garcia Márquez)
- A Mão Esquerda da Escuridão (Ursula K. Le Guin)
- Olhai os Lírios do Campo (Érico Veríssimo)
- Humano, Demasiado Humano (Friedrich Nietzsche)
- A Jangada de Pedra (José Saramago)
- Levantado do Chão (José Saramago)
Filmes:
- Crash
- Terra Fria
- Uma Vida Iluminada
- O Libertino
- O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
domingo, dezembro 31, 2006
Congresso Internacional do Medo
"Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."
Carlos Drummond de Andrade
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."
Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, dezembro 26, 2006
segunda-feira, dezembro 25, 2006
Obrigada pela Rosa
Estendeu-me a flor. Sem pudores nem palavras.
Aceitei no mesmo silêncio de tudo.
Nada valeria mais.
Aceitei no mesmo silêncio de tudo.
Nada valeria mais.
domingo, dezembro 24, 2006
Passagem do Ano
"O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o
[ calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória,
[ doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o
[ clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do
[ acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos
[ séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras
[ espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia."
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, dezembro 18, 2006
sexta-feira, dezembro 15, 2006
De Vendas nos Olhos mas com o Coração à Mostra
É dentro de mim que mora isso que eu desconheço. Essas frases proferidas sem paixão. Palavras feitas, tecidas de retalhos alheios. É dentro de mim que está: isto que interroga sem sossego. Este silêncio (re)provando. São estes os meus mistérios.
Desvenda.
Desvenda.
A Última Gota
Chove...
Tanta água pra lavar aquilo que não pode -
rugas, preocupações, contas que vencem...
Continua aqui no meu peito
esse aperto imensurável.
Chove.
Tanta água pra lavar aquilo que não pode -
rugas, preocupações, contas que vencem...
Continua aqui no meu peito
esse aperto imensurável.
Chove.
Incidental
O vento balança cortinas e certezas.
Tu não estás.
Ganho
mas não estou feliz...
Desejar o que desconhecemos
pode ser bem perigoso...
Tu não estás.
Ganho
mas não estou feliz...
Desejar o que desconhecemos
pode ser bem perigoso...
domingo, dezembro 03, 2006
À Espera
V
Chego à casa. Desato os nós dos sapatos, não os do pensamento. Resigno-me. É sexta-feira. Maria deixou a casa cheirando a limpo. Olho em redor. Pequenas coisas se calam. Nada aconchega. Longe de tudo, de minha irmã que me sorri pés ao alto na foto, nessa cidade em tudo corre para lugar nenhum.
Quanto a ela... se foi. Viajou para algum lugar indefinido, desimportante. Sei porque a secretária me informa com seu jeito eletrônico. Nada é ao vivo nesta conversa. Sei que ela está longe mas não posso sentir. Percebo pouco a pouco que tudo que busquei foi uma idéia. A idéia perdeu-se. Já nada sei.
As coisas comportam-se em seus lugares. Essa rigidez educada me aborrece. Olhar-me assim no espelho e ver sempre o mesmo. Os mesmos horários, as mesmas coisas que peço a Maria que faça, o mesmo ônibus, o mesmo itinerário.
Lembro-me então do convite. A casa da praia observando o mar, azul azul no horizonte. Miro o telefone uma única vez: não move um músculo de sua face, não brilham os algarismos... Pouco importa se ela ligar. Tomo um banho surpreendentemente rápido, ponho tenho ou quatro mudas de roupas na mochila e faço um telefonema: a que horas vão sair, ainda é tempo para encontrá-los? Sim, as respostas são todas afirmativas... Uma sorte qualquer repentinamente me sorri. Pego as chaves, fecho as janelas, despeço-me por um final de semana deste apartamento frio. Dou adeus ao telefone... sem sequer mirá-lo.
Chego à casa. Desato os nós dos sapatos, não os do pensamento. Resigno-me. É sexta-feira. Maria deixou a casa cheirando a limpo. Olho em redor. Pequenas coisas se calam. Nada aconchega. Longe de tudo, de minha irmã que me sorri pés ao alto na foto, nessa cidade em tudo corre para lugar nenhum.
Quanto a ela... se foi. Viajou para algum lugar indefinido, desimportante. Sei porque a secretária me informa com seu jeito eletrônico. Nada é ao vivo nesta conversa. Sei que ela está longe mas não posso sentir. Percebo pouco a pouco que tudo que busquei foi uma idéia. A idéia perdeu-se. Já nada sei.
As coisas comportam-se em seus lugares. Essa rigidez educada me aborrece. Olhar-me assim no espelho e ver sempre o mesmo. Os mesmos horários, as mesmas coisas que peço a Maria que faça, o mesmo ônibus, o mesmo itinerário.
Lembro-me então do convite. A casa da praia observando o mar, azul azul no horizonte. Miro o telefone uma única vez: não move um músculo de sua face, não brilham os algarismos... Pouco importa se ela ligar. Tomo um banho surpreendentemente rápido, ponho tenho ou quatro mudas de roupas na mochila e faço um telefonema: a que horas vão sair, ainda é tempo para encontrá-los? Sim, as respostas são todas afirmativas... Uma sorte qualquer repentinamente me sorri. Pego as chaves, fecho as janelas, despeço-me por um final de semana deste apartamento frio. Dou adeus ao telefone... sem sequer mirá-lo.
domingo, novembro 19, 2006
Só para ver
Deixaram de olhar pela janela.
Quem sonha espera. O tempo a tecer nuvens lá fora. Acorda. É agora.
E saíram enfim pra ver.
Quem sonha espera. O tempo a tecer nuvens lá fora. Acorda. É agora.
E saíram enfim pra ver.
Cena
Antônio entra e bate a porta. Sem sutilezas. Chega cansado do dia que o percorreu. Helena, sentada no sofá num momento de trégua das domésticas tarefas observa o marido de soslaio. Espera uma palavra qualquer de inesperada delicadeza. Não será hoje. Também não.
Antônio banha-se demoradamente enquanto Helena assiste a novela. Na tela, declarações ensaiadas invadem a cena. Queria Helena também ser essa rosa delicada, merecedora de palavras e gestos. Sonha acordada com aquilo que - sabe - não terá. Apenas sonha; não espera. Não é ingênua.
Resigna-se Helena com a louça da noite por lavar. Eterno exercício de paciência. Nada acaba.
Antônio se deita a seu lado, exausto. Diz meias palavras. Guarda para si as dificuldades do cotidiano, os aborrecimentos do trabalho. Helena compreende e agradece em silêncio a pequena sutileza do marido. Aconchega-se no seu peito e ele a abraça. Faz muito calor neste pequeno apartamento do subúrbio do Rio. Ainda assim, marido e mulher dormem entrelaçados.
Antônio banha-se demoradamente enquanto Helena assiste a novela. Na tela, declarações ensaiadas invadem a cena. Queria Helena também ser essa rosa delicada, merecedora de palavras e gestos. Sonha acordada com aquilo que - sabe - não terá. Apenas sonha; não espera. Não é ingênua.
Resigna-se Helena com a louça da noite por lavar. Eterno exercício de paciência. Nada acaba.
Antônio se deita a seu lado, exausto. Diz meias palavras. Guarda para si as dificuldades do cotidiano, os aborrecimentos do trabalho. Helena compreende e agradece em silêncio a pequena sutileza do marido. Aconchega-se no seu peito e ele a abraça. Faz muito calor neste pequeno apartamento do subúrbio do Rio. Ainda assim, marido e mulher dormem entrelaçados.
segunda-feira, outubro 30, 2006
Fuga(z)
Você me foge entre os dedos:
palavras sussurradas no ouvido,
carinhos difusos.
Me prega peças diversas.
Fazendo-me crer no amor
que já não tem.
Tudo é picadeiro
encenação de amor
quase verdadeiro.
Mas a verdade se esvai
pouco
a
pouco.
Agora
você já nem nota.
palavras sussurradas no ouvido,
carinhos difusos.
Me prega peças diversas.
Fazendo-me crer no amor
que já não tem.
Tudo é picadeiro
encenação de amor
quase verdadeiro.
Mas a verdade se esvai
pouco
a
pouco.
Agora
você já nem nota.
domingo, outubro 29, 2006
Vestígios
Resta-me
um gosto amargo de ausência.
Uma urgência qualquer
de tua presença em mim.
O cheiro dos teus cabelos
na minha lembrança.
Resta-me
essa solidão sem remédios
dentro do peito...
um gosto amargo de ausência.
Uma urgência qualquer
de tua presença em mim.
O cheiro dos teus cabelos
na minha lembrança.
Resta-me
essa solidão sem remédios
dentro do peito...
sexta-feira, outubro 20, 2006
*
As ruas, lá fora, como um rio... Denso... Negro...
Sua imagem refletida em cada poça
Busca luz, mas olha pro chão...
Nele as mesmas pedras se repetem
Que já pisou tantas vezes...
O que deseja compreender através delas?
Tudo que consegue ver são as poças de sua própria vida cada vez mais fundas...
Por que chove? Essa tristeza úmida penetrando os poros...
Quanto de si ainda resta?... Tanto já escorreu...
Quer ver através das nuvens. Mas o céu é todo breu.
Ainda em círculos a se perguntar onde foi que se perdeu do sol....
Inútil. tudo chove.
Chove tudo.
As velhas esperanças, a feliz lembrança de criança, todas as agradáveis recordações...
Sem volta... bueiro abaixo...
* Finalmente uma parceria com meu amigo Paulo. :)
Sua imagem refletida em cada poça
Busca luz, mas olha pro chão...
Nele as mesmas pedras se repetem
Que já pisou tantas vezes...
O que deseja compreender através delas?
Tudo que consegue ver são as poças de sua própria vida cada vez mais fundas...
Por que chove? Essa tristeza úmida penetrando os poros...
Quanto de si ainda resta?... Tanto já escorreu...
Quer ver através das nuvens. Mas o céu é todo breu.
Ainda em círculos a se perguntar onde foi que se perdeu do sol....
Inútil. tudo chove.
Chove tudo.
As velhas esperanças, a feliz lembrança de criança, todas as agradáveis recordações...
Sem volta... bueiro abaixo...
* Finalmente uma parceria com meu amigo Paulo. :)
Eureka
Por fim, encontraste o fio - pensei.
Aquele que - inútil - andavas procurando
e por isso mesmo não encontraste.
Tudo quanto é difuso te pertence.
Pensei apenas. Não mencionei palavra.
Terás que adivinhar...
Já que o sabias.
Assim era:
o brilho nos olhos disfarçando
o sorriso escondido nas rugas da face.
Por fim,
sabias.
Aquele que - inútil - andavas procurando
e por isso mesmo não encontraste.
Tudo quanto é difuso te pertence.
Pensei apenas. Não mencionei palavra.
Terás que adivinhar...
Já que o sabias.
Assim era:
o brilho nos olhos disfarçando
o sorriso escondido nas rugas da face.
Por fim,
sabias.
Madrugada Qualquer
A noite se cala entre pingos distantes.
Um orgasmo triste interrompe.
É quase silêncio:
até a noite dorme.
Longe
cachorros latem desenfreados
acordando o bairro.
Tudo é triste quando chove
e é madrugada.
Um orgasmo triste interrompe.
É quase silêncio:
até a noite dorme.
Longe
cachorros latem desenfreados
acordando o bairro.
Tudo é triste quando chove
e é madrugada.
quarta-feira, outubro 18, 2006
Irremediável
Fecho de novo as portas.
Você espera
perplexo
do lado de fora.
Quer que eu abra de novo
com palavras suaves
e voz receptiva.
Em troca
suas mãos estão vazias.
Você espera
aquela mesma comodidade de sempre:
aquela em que sabendo exatamente
que estamos errados
cometemos o erro.
Com a desculpa simples
e inaceitável
de que não conhecíamos o que era certo.
Você espera
perplexo
do lado de fora.
Quer que eu abra de novo
com palavras suaves
e voz receptiva.
Em troca
suas mãos estão vazias.
Você espera
aquela mesma comodidade de sempre:
aquela em que sabendo exatamente
que estamos errados
cometemos o erro.
Com a desculpa simples
e inaceitável
de que não conhecíamos o que era certo.
terça-feira, outubro 17, 2006
Sozinho
Ele se foi.
E eu caminho de novo num túnel escuro.
É solitário aqui
como qualquer caminho.
Caminho.
Mesmo só se aprende.
Essa é a luta:
de que não seja em vão.
E eu caminho de novo num túnel escuro.
É solitário aqui
como qualquer caminho.
Caminho.
Mesmo só se aprende.
Essa é a luta:
de que não seja em vão.
quinta-feira, outubro 12, 2006
quarta-feira, outubro 11, 2006
Semelhantes
Anda na rua como quem procura.
Todos parecem rumar
na mesma direção:
todos têm pressa.
Mas, quando fala,
ninguém ouve.
Cada um confuso
com suas próprias indecisões.
Aquilo de ouvir
já não funciona.
Cada um carrega atrás de si
seu próprio universo.
Quer falar
mas ninguém ouve.
Quer ouvir
mas ninguém parece ser verdadeiro.
Quer fazer parte
mas fica à parte.
Igual
na diferença
de seus semelhantes.
Todos parecem rumar
na mesma direção:
todos têm pressa.
Mas, quando fala,
ninguém ouve.
Cada um confuso
com suas próprias indecisões.
Aquilo de ouvir
já não funciona.
Cada um carrega atrás de si
seu próprio universo.
Quer falar
mas ninguém ouve.
Quer ouvir
mas ninguém parece ser verdadeiro.
Quer fazer parte
mas fica à parte.
Igual
na diferença
de seus semelhantes.
sábado, outubro 07, 2006
À Espera
IV
Duas semanas depois eu a espero num café. Está vinte minutos atrasada quando entra, beija-me levemente e senta ao meu lado. Traz consigo um cheiro adocicado. Sorri. Depois faz o pedido ao garçom - tem pressa. Assim como nossos outros encontros e nossas conversas ao telefone, tudo parece rápido. Menos a espera. Sinto-me sempre aguardando. Esperando. Algo que nem sei ao certo o que pode ser. Pode ser? O que é isso que espero que ela me traga? Que expectativa é esta que não me dou conta. Divago enquanto ela bebe um gole de água mineral. 30 graus no Rio, tempo abafado pedindo chuva. Mas não chove. Ela bebe e me olha curiosa. Não posso explicar aquilo que não entendo.
Me calo. De repente percebo que aquele momento que esperei com tanto entusiasmo se transforma num momento de tensão. Sem tréguas, sem alegrias... Apenas tensão. Procuro espantar aquele pensamento enquanto faço também meu pedido ao garçom.
Comemos e conversamos sobre coisas leves - como anda o trabalho, o tempo, a tv, os últimos filmes no cinema. Falamos sobre nada. Ela me olha e depois desvia o olhar para o salão como se procurasse alguém. Sem notar, acompanho o olhar dela como se pudesse ver alguém se aproximar em sua direção. Ninguém se aproxima.
Quando termina, se despede explicando que o dia está complicado, quase desmarcou o almoço. Levanta e vai embora deixando sua parte da conta paga. Ela também quer algo de mim que eu desconheço.
Duas semanas depois eu a espero num café. Está vinte minutos atrasada quando entra, beija-me levemente e senta ao meu lado. Traz consigo um cheiro adocicado. Sorri. Depois faz o pedido ao garçom - tem pressa. Assim como nossos outros encontros e nossas conversas ao telefone, tudo parece rápido. Menos a espera. Sinto-me sempre aguardando. Esperando. Algo que nem sei ao certo o que pode ser. Pode ser? O que é isso que espero que ela me traga? Que expectativa é esta que não me dou conta. Divago enquanto ela bebe um gole de água mineral. 30 graus no Rio, tempo abafado pedindo chuva. Mas não chove. Ela bebe e me olha curiosa. Não posso explicar aquilo que não entendo.
Me calo. De repente percebo que aquele momento que esperei com tanto entusiasmo se transforma num momento de tensão. Sem tréguas, sem alegrias... Apenas tensão. Procuro espantar aquele pensamento enquanto faço também meu pedido ao garçom.
Comemos e conversamos sobre coisas leves - como anda o trabalho, o tempo, a tv, os últimos filmes no cinema. Falamos sobre nada. Ela me olha e depois desvia o olhar para o salão como se procurasse alguém. Sem notar, acompanho o olhar dela como se pudesse ver alguém se aproximar em sua direção. Ninguém se aproxima.
Quando termina, se despede explicando que o dia está complicado, quase desmarcou o almoço. Levanta e vai embora deixando sua parte da conta paga. Ela também quer algo de mim que eu desconheço.
O Corpo Resiste
Queria de novo
a lembrança dos instantes felizes
os dias coloridos e repletos
os amigos por perto.
Queria de novo
o sorriso simples de estar vivo
de sentir a vida percorrendo os caminhos
o sentido de se sentir a caminho.
Queria simplesmente
que aquele corpo velho comportasse
a alegria de menino...
a lembrança dos instantes felizes
os dias coloridos e repletos
os amigos por perto.
Queria de novo
o sorriso simples de estar vivo
de sentir a vida percorrendo os caminhos
o sentido de se sentir a caminho.
Queria simplesmente
que aquele corpo velho comportasse
a alegria de menino...
sábado, setembro 30, 2006
Bolinho *
Quando teu olhinho brilha
menina
ilumina.
Ainda não és capaz de entender...
Mesmo assim
parabéns!
* Primeiro aniversário da Malu. Beijinhos da dinda!
menina
ilumina.
Ainda não és capaz de entender...
Mesmo assim
parabéns!
* Primeiro aniversário da Malu. Beijinhos da dinda!
Desenho de Deus
Essa música não faz muito meu gênero... Porém, quando ouvi, achei a letra uma gracinha e dias atrás eu pensei que seria legal publicá-la aqui porque me lembrei que tenho alguns queridos visitantes de Portugal e seria legal mostrar pra eles algumas coisas que rolam por aqui...
Um beijinho pra todos os (poucos mas queridos) visitantes do Palavras e curtam com carinho essa letra:
Desenho de Deus
(Armandinho)
Quando Deus te desenhou Ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Quando Deus te desenhou Ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Papai do céu na hora de fazer você
Ele deve ter caprichado pra valer
Botou muita pureza no seu coração
e a sua humildade fez chamar minha atenção
tirou a sua voz do própolis do mel
e o teu sorriso lindo de algum lugar do céu
e o resto deve ser beleza exterior
mas o que têm por dentro para mim tem mais valor
Quando Deus te desenhou Ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Papai do céu na hora de fazer você
Ele deve ter caprichado pra valer
Botou muita pureza no seu coração
e a sua humildade fez chamar minha atenção
Da estrela mais bonita o brilho desse olhar
Diamante verdadeiro sua palavra foi buscar
e o resto deve ser beleza exterior
mas o que têm por dentro para mim tem mais valor
Quando Deus te desenhou Ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Um beijinho pra todos os (poucos mas queridos) visitantes do Palavras e curtam com carinho essa letra:
Desenho de Deus
(Armandinho)
Quando Deus te desenhou Ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Quando Deus te desenhou Ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Papai do céu na hora de fazer você
Ele deve ter caprichado pra valer
Botou muita pureza no seu coração
e a sua humildade fez chamar minha atenção
tirou a sua voz do própolis do mel
e o teu sorriso lindo de algum lugar do céu
e o resto deve ser beleza exterior
mas o que têm por dentro para mim tem mais valor
Quando Deus te desenhou Ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Papai do céu na hora de fazer você
Ele deve ter caprichado pra valer
Botou muita pureza no seu coração
e a sua humildade fez chamar minha atenção
Da estrela mais bonita o brilho desse olhar
Diamante verdadeiro sua palavra foi buscar
e o resto deve ser beleza exterior
mas o que têm por dentro para mim tem mais valor
Quando Deus te desenhou Ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
Combatendo a hipocrisia com a hipocrisia. Será que funciona?!
Sim... eu gosto de novela. E ao contrário do meu amigo que odeia as novelas do Manoel Carlos, eu adoro. Acho os textos relativamente mais profundos e os personagens também... Os diálogos, às vezes, parecem mais bem cuidados também. Mas... uma coisa que eu não acreditei ter visto nessa última semana foi o reencontro de um casal homossexual em que o texto consistia em: "cara, eu senti muitas saudades de você" acompanhado por uns calorosos (???) tapinhas nas costas... como dois bons e velhos... eu diria, colegas de trabalho! Céus! em que planeta um casal de namorados que não se vê há dois meses diria apenas "cara, eu senti muitas saudades de você" com tapinhas e sem beijos?!
É com hipocrisia que a gente espera combater a hipocrisia? Por que um casal homessexual não pode se beijar na TV?
Fica aqui registrada a minha indignação novelística! :)
É com hipocrisia que a gente espera combater a hipocrisia? Por que um casal homessexual não pode se beijar na TV?
Fica aqui registrada a minha indignação novelística! :)
domingo, setembro 24, 2006
Passante *
Acordo entre blocos de concreto
onde o sol não chega.
Todos os dias.
Ouço as mesmas vozes
as mesmas correntezas.
Os letreiros nos mostram pessoas que não somos.
Mas que gostaríamos de ser.
Nos vendem um sonho que não podemos pagar.
A prazo, no talão de cheques ou em 3 vezes no cartão.
Um sonho sujo
de rejeitar o que é nosso.
E o que é dos outros.
Caminho entre carros
pessoas que soltam a fumaça de seus pulmões na minha cara.
Me esbarram
me levam pro sentido contrário.
Nessa maré que nos move.
Para onde?
* Roubei o título do meu amigo Paulo... :)
onde o sol não chega.
Todos os dias.
Ouço as mesmas vozes
as mesmas correntezas.
Os letreiros nos mostram pessoas que não somos.
Mas que gostaríamos de ser.
Nos vendem um sonho que não podemos pagar.
A prazo, no talão de cheques ou em 3 vezes no cartão.
Um sonho sujo
de rejeitar o que é nosso.
E o que é dos outros.
Caminho entre carros
pessoas que soltam a fumaça de seus pulmões na minha cara.
Me esbarram
me levam pro sentido contrário.
Nessa maré que nos move.
Para onde?
* Roubei o título do meu amigo Paulo... :)
domingo, setembro 17, 2006
Ponto de Interrogação
"Eu preciso é ter consciência
do que eu represento
nesse exato momento
no exato instante
na cama, na lama, na grama
em que eu tenho uma vida inteira
nas mãos"
Gonzaguinha
do que eu represento
nesse exato momento
no exato instante
na cama, na lama, na grama
em que eu tenho uma vida inteira
nas mãos"
Gonzaguinha
II
Eduardo caminha pela cidade sem a resposta de Carmem. Sabe que seria assim. Sempre soube que Carmem nada diria.
No quarto e sala do subúrbio, Carmem vigia o sono das crianças no minúsculo quartinho de empregada. Dormem com a porta aberta e têm medo de olhar a janela da cozinha que fica em frente. No escuro, figuras estranhas desenham-se na janela. Carmem observa triste as crianças no cubículo. Queria para eles um quartinho onde pudessem brincar. Queria tanto para os filhos... para si mesma. Para Antonio.
Carmem arrasta os chinelos com cuidado para não acordar as crianças. Dormiram, não terão medo. Antonio lê no quarto e ela fica na sala assistindo aos programas da noite morna de domingo.
Válvula
Quero um ponto de fuga.
Um escape qualquer que me permita ser
aquilo que penso que sou.
Ou
- não sendo -
me transforme.
Um escape qualquer que me permita ser
aquilo que penso que sou.
Ou
- não sendo -
me transforme.
quarta-feira, setembro 06, 2006
Ponto de Interrogação
"Desfaz o vento
o que há por dentro
desse lugar
que ninguém mais pisou."
Nando Reis e Samuel Rosa
o que há por dentro
desse lugar
que ninguém mais pisou."
Nando Reis e Samuel Rosa
Eduardo mira os olhos enrugados pelos 42 anos de Carmem. Não diz nada... Apenas mira. Carmem enxerga as interrogações no olhar de Eduardo. Ele espera uma resposta?
Na poltrona, Antonio assiste TV e lê o jornal de domingo atrasado. Carmem passa um café para eles. A tarde cai e a noite vai recolhendo os vestígios do que foi um dia frio e ensolarado. O olhar de Eduardo ainda interroga.
Carmem traz o café, serve Antonio. À mesa, Eduardo se serve. Carmem se senta na cabeceira da mesa porque Antonio continua sentado na poltrona. Distante. Às vezes, ri ligeiro e comenta alguma das notícias que lê. Carmem observa triste. Antonio nada interroga. As crianças passam correndo para o quarto pois têm seus próprios programas para ver. Antonio não repara. Carmem vai à cozinha a pretexto de levar as canecas mas quer esconder uma lágrima. Carmem olha pela janela e chora. Pensa em Antonio, nas crianças, pensa em Eduardo. Não foi educada para essas respostas. Não tem respostas.
Quando finalmente volta à sala, Eduardo já se prepara para ir. Ele ainda a olha por um instante. Carmem abaixa lentamente a cabeça e Eduardo sabe que o gesto que poderia ser um sim pela metade é um não. Pega suas coisas, despede-se de Antonio e sai.
quinta-feira, agosto 31, 2006
Por motivo de força. Maior?!
Pois é... O Blogger resolveu trocar pra Blogger Beta. Eu não sei quais são as diferenças e nem quero saber. Porém, dei azar e loguei justo num dia em que a migração já tinha começado... Pois bem. Lá veio ele com aquele papo de vamos migrar. Eu não queria migrar. Mas... não tinha link em lugar nenhum pra entrar no dashboard do Blogger. Vi que a tal migração tinha mais de um passo. Pensei então: vai que o link pro meu dashboard tá perdido lá por dentro? Cliquei. Erro... Claro, o site tem várias alterações no template, daí não migrou. Ótimo, finalmente apareceu o tão sonhado link pra administração do meu site.
Dias depois volto eu e eis que... nada. Não consigo entrar no site, quando me logo agora ele me redireciona pro dashboard do Blogger Beta que não tem site nenhum. Claro, meu site continua perdido no limbo do Blogger. Ok, uma semana depois instalo um outro browser na minha máquina e funciona. Volto pro Firefox, deleto toda a pasta de configurações dele (sim, porque Cookies e afins eu já havia excluído) e então... Funcionou.
É isso aí... Estamos de volta... hunf...
Dias depois volto eu e eis que... nada. Não consigo entrar no site, quando me logo agora ele me redireciona pro dashboard do Blogger Beta que não tem site nenhum. Claro, meu site continua perdido no limbo do Blogger. Ok, uma semana depois instalo um outro browser na minha máquina e funciona. Volto pro Firefox, deleto toda a pasta de configurações dele (sim, porque Cookies e afins eu já havia excluído) e então... Funcionou.
É isso aí... Estamos de volta... hunf...
segunda-feira, agosto 21, 2006
Parabéns Atrasado
"(...)E quem adivinha ao menos em parte as consequências de toda profunda suspeita, os calafrios e angústias do isolamento, a que toda incondicional diferença do olhar condena quem dela sofre, compreenderá também com que frequência, para me recuperar de mim, como para esquecer-me temporariamente, procurei abrigo em algum lugar (...). Mas o que sempre necessitei mais urgentemente, para minha cura e restauração própria, foi a crença de não ser de tal modo solitário, de não ver assim solitariamente - uma mágica intuição de semelhança e afinidade de olhar e desejo, um repousar na confiança da amizade, uma cegueira a dois sem interrogação nem suspeita, uma fruição de primeiros planos, de superfícies, do que é próximo e está perto, de tudo o que tem cor, pele e aparência (...)."
Para meu amigo Paulo, estas belas palavras de Nietzsche em "Humano, demasiado humano". Sempre ouvi dizer deste filósofo que ele era rude e contestador... É o primeiro livro que leio seriamente dele, e tenho o prazer de encontrar essas palavras logo no início. E porque as considero doces e muito humanas é que as ofereço a ti, amigo.
Para meu amigo Paulo, estas belas palavras de Nietzsche em "Humano, demasiado humano". Sempre ouvi dizer deste filósofo que ele era rude e contestador... É o primeiro livro que leio seriamente dele, e tenho o prazer de encontrar essas palavras logo no início. E porque as considero doces e muito humanas é que as ofereço a ti, amigo.
quarta-feira, agosto 09, 2006
Bumerangue
Então
você se escondeu embaixo dos meus cabelos
e me pediu:
fica.
E porque tudo que você me pede
com essa voz de choro
solidão
paixão
amor...
tudo vira amor novinho em folha
sem rasgos
cicatrizes
desesperanças...
Porque o meu amor é maior
e sobrevive sempre,
porque você me disse fica
eu fico.
Porque você disse volta
eu volto. E te consolo
e te acarinho
com todo amor de sempre
e de nunca.
Porque te amo.
você se escondeu embaixo dos meus cabelos
e me pediu:
fica.
E porque tudo que você me pede
com essa voz de choro
solidão
paixão
amor...
tudo vira amor novinho em folha
sem rasgos
cicatrizes
desesperanças...
Porque o meu amor é maior
e sobrevive sempre,
porque você me disse fica
eu fico.
Porque você disse volta
eu volto. E te consolo
e te acarinho
com todo amor de sempre
e de nunca.
Porque te amo.
quinta-feira, agosto 03, 2006
Resistente
Risco seu nome a lápis. Mas você resiste.
Sua imagem impressionada em minha retina.
Vitrine, cortina.
Sua palavra em meu ouvido.
Mudo de sentidos.
Mudo.
Nada faz sentido.
Mas você resiste.
Risca com giz desafinado
o quadro negro das certezas.
Tudo oscila. Balança. Duvida.
Desequilibra.
Mas você resiste.
Sua imagem impressionada em minha retina.
Vitrine, cortina.
Sua palavra em meu ouvido.
Mudo de sentidos.
Mudo.
Nada faz sentido.
Mas você resiste.
Risca com giz desafinado
o quadro negro das certezas.
Tudo oscila. Balança. Duvida.
Desequilibra.
Mas você resiste.
quinta-feira, julho 27, 2006
À Espera
III
Acordo bem disposto, me arrumo. Tomo meu café rapidamente enquanto olho de relance o jornal. Pego um ônibus cheio: são sete e quarenta da manhã de uma segunda-feira e sabe-se lá porquê o trânsito no centro do Rio é caótico. Quando vejo, estou concentrado de novo em fazer com que o sinal abra. Nada adianta. Demoro mais uns 50 minutos para chegar no trabalho. O normal seria chegar em 15.
O escritório está quase vazio e frio como sempre. Inóspito, eu diria num dia menos feliz. Mas, ela telefonou e suas palavras ainda guardam dentro de mim. Sigo com um sorriso perdido até minha mesa, arrumo minhas coisas, ajeito o porta-retratos sobre a mesa com a fotografia de Elisa. Minha irmã me sorri de uma praça qualquer em algum lugar distante do mundo. Os cabelos ao vento sentada num balanço feito uma criança: como sempre, os pés fora do chão. É segunda-feira mas não parece: sinto-me animado.
Quando me dou conta são quatro horas da tarde e me lembro que dessa vez fiquei de ligar. Procuro o número anotado num papel colorido dentro da carteira. Disco os números nervoso. O telefone toca sem resposta. Tento mais tarde, penso. Pouso o aparelho no gancho e depois do que me pareceram alguns minutos ouço a voz de alguém que me chama ao lado: "Vamos almoçar? Já é tarde, a esta hora tem uns descontos por aí." Corri tanto que esqueci de almoçar. Não sinto fome e recuso o convite. Tudo me parece feliz, mesmo esquecer de almoçar.
São quase seis horas quando a fome aperta pra valer. Desço para fazer um lanche rápido. Preciso ainda voltar ao escritório, resolver algumas coisas e ir embora. Estou animado para terminar o que preciso no prazo. A semana está no começo e ainda não sei que se passariam mais dois dias até que eu conseguisse falar com ela.
Volto ao trabalho, termino alguns detalhes e vou embora. Na volta, o ônibus está vazio, sento-me e vou lendo as luzes da cidade no caminho de volta pra casa.
Entro e mesmo antes de acender a luz sei o que vou encontrar: a casa cheira a limpeza. Maria faz a faxina às segundas. Arruma o pouco que consigo desorganizar em meus finais de semana solitários neste apartamento. Abre cortinas, tira o pó. Deixa tudo com cheiro de limpo. Tiro meus sapatos e tomo um banho quente. Deito-me na cama para ler mas meus pensamentos estão em outras linhas.
A terça amanhece menos ensolarada. O trânsito parece menos monstruoso. Chego ao trabalho sem pressa. Passo o dia entre reuniões. A tarde está pelo meio quando tento ligar de novo. O telefone toca e uma voz eletrônica me diz que ou não está em casa ou não quer atender. Desligo. Nunca sei que entonação usar quando falo com ninguém. Desanimo um pouco mas não tenho tempo de pensar nisso: enquanto estava na reunião, 5 emails importantes chegaram, pedindo coisas, cobrando. Sinto-me exausto e a semana mal começou. Poderia também dizer que começou mal?
Quarta-feira. Meio da tarde. Tenho uns minutos livres e resolvo ligar. Já não sei o que dizer se ela atender do outro lado. Então ela atende como quem indaga algo de mim: "Oi?". Esperava alguém? "Não, estou saindo do banho, atendi meio atrapalhada", ela me disse. Ah, sim... e as palavras se perdem, como sempre que falo com ela. "Posso te ligar mais tarde? Daqui a uns minutos, prometo". Claro e desligo. Assim que pouso o telefone no gancho me lembro que ela só tem o telefone de minha casa. Parece que tudo gira em torno de um simples fio.
Acordo bem disposto, me arrumo. Tomo meu café rapidamente enquanto olho de relance o jornal. Pego um ônibus cheio: são sete e quarenta da manhã de uma segunda-feira e sabe-se lá porquê o trânsito no centro do Rio é caótico. Quando vejo, estou concentrado de novo em fazer com que o sinal abra. Nada adianta. Demoro mais uns 50 minutos para chegar no trabalho. O normal seria chegar em 15.
O escritório está quase vazio e frio como sempre. Inóspito, eu diria num dia menos feliz. Mas, ela telefonou e suas palavras ainda guardam dentro de mim. Sigo com um sorriso perdido até minha mesa, arrumo minhas coisas, ajeito o porta-retratos sobre a mesa com a fotografia de Elisa. Minha irmã me sorri de uma praça qualquer em algum lugar distante do mundo. Os cabelos ao vento sentada num balanço feito uma criança: como sempre, os pés fora do chão. É segunda-feira mas não parece: sinto-me animado.
Quando me dou conta são quatro horas da tarde e me lembro que dessa vez fiquei de ligar. Procuro o número anotado num papel colorido dentro da carteira. Disco os números nervoso. O telefone toca sem resposta. Tento mais tarde, penso. Pouso o aparelho no gancho e depois do que me pareceram alguns minutos ouço a voz de alguém que me chama ao lado: "Vamos almoçar? Já é tarde, a esta hora tem uns descontos por aí." Corri tanto que esqueci de almoçar. Não sinto fome e recuso o convite. Tudo me parece feliz, mesmo esquecer de almoçar.
São quase seis horas quando a fome aperta pra valer. Desço para fazer um lanche rápido. Preciso ainda voltar ao escritório, resolver algumas coisas e ir embora. Estou animado para terminar o que preciso no prazo. A semana está no começo e ainda não sei que se passariam mais dois dias até que eu conseguisse falar com ela.
Volto ao trabalho, termino alguns detalhes e vou embora. Na volta, o ônibus está vazio, sento-me e vou lendo as luzes da cidade no caminho de volta pra casa.
Entro e mesmo antes de acender a luz sei o que vou encontrar: a casa cheira a limpeza. Maria faz a faxina às segundas. Arruma o pouco que consigo desorganizar em meus finais de semana solitários neste apartamento. Abre cortinas, tira o pó. Deixa tudo com cheiro de limpo. Tiro meus sapatos e tomo um banho quente. Deito-me na cama para ler mas meus pensamentos estão em outras linhas.
A terça amanhece menos ensolarada. O trânsito parece menos monstruoso. Chego ao trabalho sem pressa. Passo o dia entre reuniões. A tarde está pelo meio quando tento ligar de novo. O telefone toca e uma voz eletrônica me diz que ou não está em casa ou não quer atender. Desligo. Nunca sei que entonação usar quando falo com ninguém. Desanimo um pouco mas não tenho tempo de pensar nisso: enquanto estava na reunião, 5 emails importantes chegaram, pedindo coisas, cobrando. Sinto-me exausto e a semana mal começou. Poderia também dizer que começou mal?
Quarta-feira. Meio da tarde. Tenho uns minutos livres e resolvo ligar. Já não sei o que dizer se ela atender do outro lado. Então ela atende como quem indaga algo de mim: "Oi?". Esperava alguém? "Não, estou saindo do banho, atendi meio atrapalhada", ela me disse. Ah, sim... e as palavras se perdem, como sempre que falo com ela. "Posso te ligar mais tarde? Daqui a uns minutos, prometo". Claro e desligo. Assim que pouso o telefone no gancho me lembro que ela só tem o telefone de minha casa. Parece que tudo gira em torno de um simples fio.
Saudade
Das manhãs de sábado na casa da minha avó
o café quente na caneca de plástico
as formigas sobre a mesa
pão torrado.
Do cheiro temperado das mãos da minha avó
do sabor do seu feijão que ninguém jamais fará igual
de ver seus óculos na ponta do nariz catando os grãos sobre a mesa.
Saudade do susto que nos fazia levantar da poltrona preferida do meu avô
quando o portão rangia: era ele chegando.
Por muito tempo ainda ouvimos o portão ranger
mesmo depois de sua morte.
o café quente na caneca de plástico
as formigas sobre a mesa
pão torrado.
Do cheiro temperado das mãos da minha avó
do sabor do seu feijão que ninguém jamais fará igual
de ver seus óculos na ponta do nariz catando os grãos sobre a mesa.
Saudade do susto que nos fazia levantar da poltrona preferida do meu avô
quando o portão rangia: era ele chegando.
Por muito tempo ainda ouvimos o portão ranger
mesmo depois de sua morte.
quarta-feira, julho 26, 2006
Muito Pouco
O que é que tu procuras
assim
caminhando a esmo pelo mundo?
Que coisa não mundana pretendes encontrar?
Pega, apalpa, aperta.
É isto. Nada mais que isto.
Tudo quanto te rodeia.
Apenas.
Achas pouco?
assim
caminhando a esmo pelo mundo?
Que coisa não mundana pretendes encontrar?
Pega, apalpa, aperta.
É isto. Nada mais que isto.
Tudo quanto te rodeia.
Apenas.
Achas pouco?
terça-feira, julho 25, 2006
sábado, julho 22, 2006
A Queda
Mariana caminha calmamente pelas ruas do centro. Desvia de pessoas que andam apressadas, preocupadas. Como se precisassem alcançar algo nos próximos minutos. Mariana não tem pressa. Tem o resto da tarde livre. Caminha como quem se reconhece.
Enxerga apenas aquilo que importa: os raios de sol nessa tarde de inverno, as vitrines, rostos bonitos perdidos pela cidade. Para onde caminha esse povo apressado? Desvia então das ruas principais. Toma um beco, caminha entre bares, transeuntes, ambulantes. Tudo caminha sem direção. Mariana quer ver a moda. Observa os manequins. Cachecóis, casacos, calças, colares. Pára de repente, ouve gritos desordenados pelas ruas, algumas pessoas correm e ouve-se um estampido forte no meio da rua. Não tem tempo de se dar conta.
Ainda sorri enquanto cai.
Enxerga apenas aquilo que importa: os raios de sol nessa tarde de inverno, as vitrines, rostos bonitos perdidos pela cidade. Para onde caminha esse povo apressado? Desvia então das ruas principais. Toma um beco, caminha entre bares, transeuntes, ambulantes. Tudo caminha sem direção. Mariana quer ver a moda. Observa os manequins. Cachecóis, casacos, calças, colares. Pára de repente, ouve gritos desordenados pelas ruas, algumas pessoas correm e ouve-se um estampido forte no meio da rua. Não tem tempo de se dar conta.
Ainda sorri enquanto cai.
quinta-feira, julho 20, 2006
Invisível
Calamo-nos.
As palavras já não bastam.
Há algo entre você e eu
que já não sabemos desvendar.
Que mistério é este
que nos desvenda?
A cartomante só em sua tenda
não saberia dizer.
Que faz você destas frases
que eu emprego?
Que silêncios produz quando não estou?
Aquilo que não vemos existe
assustadoramente. Mas não importa:
entre o teu silêncio e o meu
há uma ponte.
As palavras já não bastam.
Há algo entre você e eu
que já não sabemos desvendar.
Que mistério é este
que nos desvenda?
A cartomante só em sua tenda
não saberia dizer.
Que faz você destas frases
que eu emprego?
Que silêncios produz quando não estou?
Aquilo que não vemos existe
assustadoramente. Mas não importa:
entre o teu silêncio e o meu
há uma ponte.
Desencontro
Você me chama quando já não quero.
Me conta coisas. Me exige atenção.
Incondicionalmente me prende.
Refém de tuas vontades.
Você quer colo, carinho, palavras.
E alguma companhia.
Mas estou há muito só. Sem estrada.
Andando sem rumo, rumo ao acaso.
Hoje eu me faço companhia.
Me conta coisas. Me exige atenção.
Incondicionalmente me prende.
Refém de tuas vontades.
Você quer colo, carinho, palavras.
E alguma companhia.
Mas estou há muito só. Sem estrada.
Andando sem rumo, rumo ao acaso.
Hoje eu me faço companhia.
quarta-feira, julho 19, 2006
Já não era sem tempo
Finalmente Paulo Lobo resolveu compartilhar suas palavras com a gente.
Que bom... O sucesso será irreversível.
Que bom... O sucesso será irreversível.
terça-feira, julho 18, 2006
Sozinho
Aprender a ser de novo
só.
Aprender a ter aquilo que se tem.
Apenas.
Nada mais:
um gesto em frente o espelho.
Tentando ser delicado. Mas já não é.
Perdeu-se.
Tudo que tenho são tuas palavras
- de despedida?
O coração sangra.
Mas cicatriza.
Aprender a andar só pelas esquinas.
Sem qualquer encontro.
Chove. A janela chora.
Eu aprecio.
A gente se recupera qualquer hora.
O coração chora.
Mas fortalece.
só.
Aprender a ter aquilo que se tem.
Apenas.
Nada mais:
um gesto em frente o espelho.
Tentando ser delicado. Mas já não é.
Perdeu-se.
Tudo que tenho são tuas palavras
- de despedida?
O coração sangra.
Mas cicatriza.
Aprender a andar só pelas esquinas.
Sem qualquer encontro.
Chove. A janela chora.
Eu aprecio.
A gente se recupera qualquer hora.
O coração chora.
Mas fortalece.
domingo, julho 02, 2006
Chega de país do futuro. Quero mais Brasil agora.
Pra que o sonho do menino não seja só jogar bola.
Pra que ele tenha escola pra escolher o mundo que quiser viver.
Lutar por um país mais inteiro onde o povo se una não só pelo futebol.
Que ele seja a partir de agora e, para sempre, apenas mais um espetáculo e não toda a nossa expectativa de felicidade.
Que esse país tem tanto pra mostrar.
E tanto por descobrir...
Pra que ele tenha escola pra escolher o mundo que quiser viver.
Lutar por um país mais inteiro onde o povo se una não só pelo futebol.
Que ele seja a partir de agora e, para sempre, apenas mais um espetáculo e não toda a nossa expectativa de felicidade.
Que esse país tem tanto pra mostrar.
E tanto por descobrir...
sábado, julho 01, 2006
Gravidade
Ando pensando no contato físico entre os corpos.
Não os corpos celestes.
Os nossos.
Um afago, um agrado.
Um abraço apertado.
Um aperto de mão.
O que foi que perdemos
no meio da multidão?
Do sim restou um não.
Talvez.
Até um dia.
Que dia é esse que não vem?
Quando virá você com as mãos estendidas
pra me dizer: meu bem...
Eu sei.
Você veio, me pareceu distante
e eu me fiz de difícil.
Desisti de correr os riscos.
Fiquei arisca
não atendi telefonemas teus.
Eu sei.
Você bem que disse: não disse?
Mas não disse adeus.
Nem eu...
Mesmo assim pensei que seria um fim
para nós.
Não foi.
(Ou foi e nós que ainda vivemos esta história
não a damos por encerrada?)
Um dia te encontro de novo.
Te conto nos detalhes tudo que perdeste.
Um dia virás simplesmente sem aviso
e estarei alegre. E enfim
nos reencontraremos de nós.
Para não mais nos perdermos.
Não os corpos celestes.
Os nossos.
Um afago, um agrado.
Um abraço apertado.
Um aperto de mão.
O que foi que perdemos
no meio da multidão?
Do sim restou um não.
Talvez.
Até um dia.
Que dia é esse que não vem?
Quando virá você com as mãos estendidas
pra me dizer: meu bem...
Eu sei.
Você veio, me pareceu distante
e eu me fiz de difícil.
Desisti de correr os riscos.
Fiquei arisca
não atendi telefonemas teus.
Eu sei.
Você bem que disse: não disse?
Mas não disse adeus.
Nem eu...
Mesmo assim pensei que seria um fim
para nós.
Não foi.
(Ou foi e nós que ainda vivemos esta história
não a damos por encerrada?)
Um dia te encontro de novo.
Te conto nos detalhes tudo que perdeste.
Um dia virás simplesmente sem aviso
e estarei alegre. E enfim
nos reencontraremos de nós.
Para não mais nos perdermos.
quinta-feira, junho 22, 2006
À Espera
II
É cedo ainda. O sol vem me chamar na cama ainda bem cedo nesse sábado. Abro os olhos como se estivesse desperto desde o dia anterior. Olho pela janela. Observo o movimento da rua sábado de manhã. Os sons. Crianças no colo dos pais, embrulho de pão, frango assado da padaria. Faz fila na padaria. Mas o sol ofusca meus olhos que dormiram pouco fazendo-os arderem. Fecho as cortinas.
Fica tudo escuro aqui dentro. Mais escuro do que já vem sendo. Passo os olhos de relance pelo telefone. Nem espero mais que toque, ruja, lata ou emita qualquer som. Tenho certeza de que emudecerá. Hoje, no fim da tarde, quando ela ligar, vou fazer as pazes com o telefone. Mas ainda é cedo e eu já não espero.
Sento-me no sofá, tento ler. Florentino Ariza ainda espera Fermina Daza tantos anos depois. Esperar, esperança, espera. Fecho o livro. Já não quero saber dessas tolices.
Olho o pão duro sobre o fogão. Resolvo sair. Calço meus chinelos e, só então, percebo como meus pés me doem. Passei o dia todo de sapatos calçados aguardando alguém que não viria, que não ligaria. Sinto raiva de mim. Por que ainda acreditar? Pego minhas chaves e saio. Lá fora tudo está alegre. Algumas poucas crianças andam de bicicleta na minha rua. Ando até a esquina, atravesso uma rua perpendicular à minha. Entro na padaria, olho para a moça do caixa e de repente não sei o que dizer. Volto para o final da fila. Dois pães franceses, por favor. Dou o dinheiro, recebo meu troco. Pego o embrulho e saio, ainda disperso.
De volta à casa, não sei o que fazer com um dia inteiro pela frente não planejado. Um dia inteiro para imaginar onde estaria e não estou. Até o sol vai desistindo lá fora e o frio vai tomando conta da casa. Olho a pia da cozinha: sequer tenho uma louça por lavar que ocupe meus pensamentos. Ou, pelo menos, minhas mãos. Maria deixou tudo com cheiro de limpo e um bilhete: "tem carne na geladeira". Preparo um café forte e sento-me à mesa. Ficarei aqui esperando o dia a escoar?
Passo manteiga no pão ainda quente. Tudo demora. O dia demora. A vida demora como se estivesse suspensa. Fico angustiado. Como se saber que vou viver as próximas horas nessa espera negada fosse um anúncio de morte.
Tomo meu café sem alegria. Resolvo voltar ao livro e leio até o meio da tarde quando a fome e a lembrança da carne na geladeira me tiram a concentração. Olho o relógio e felicito-me: passaram-se horas. Esquento a comida e me sinto triste, solitário nesse apartamento. Sequer convivo com Maria, sei de seus filhos, exatamente onde mora, o que faz quando não está aqui. Ela chega quando estou quase saindo e vai embora antes que eu retorne. Sequer converso com Maria. Sequer sei de suas necessidades. Esse pensamento estranho me perturba.
Sento-me à mesa e almoço só, como em todas as tardes de sábado. Lavo a louça bem comportado, enxugo os pratos. Então o telefone toca. Fico paralisado por alguns segundos. Depois enxugo as mãos no pano de prato colorido. Sento-me no escritório: "Alô?". Ela me sorri do outro lado. Desculpa-se brevemente por não ter ligado no dia anterior como combinado, diz simplesmente: "não deu". Como se pudesse amenizar toda a minha espera. Sorrio de volta e passo as mãos pelos cabelos, sorrindo, bobo. Ela parece ter tanto a me dizer...
É cedo ainda. O sol vem me chamar na cama ainda bem cedo nesse sábado. Abro os olhos como se estivesse desperto desde o dia anterior. Olho pela janela. Observo o movimento da rua sábado de manhã. Os sons. Crianças no colo dos pais, embrulho de pão, frango assado da padaria. Faz fila na padaria. Mas o sol ofusca meus olhos que dormiram pouco fazendo-os arderem. Fecho as cortinas.
Fica tudo escuro aqui dentro. Mais escuro do que já vem sendo. Passo os olhos de relance pelo telefone. Nem espero mais que toque, ruja, lata ou emita qualquer som. Tenho certeza de que emudecerá. Hoje, no fim da tarde, quando ela ligar, vou fazer as pazes com o telefone. Mas ainda é cedo e eu já não espero.
Sento-me no sofá, tento ler. Florentino Ariza ainda espera Fermina Daza tantos anos depois. Esperar, esperança, espera. Fecho o livro. Já não quero saber dessas tolices.
Olho o pão duro sobre o fogão. Resolvo sair. Calço meus chinelos e, só então, percebo como meus pés me doem. Passei o dia todo de sapatos calçados aguardando alguém que não viria, que não ligaria. Sinto raiva de mim. Por que ainda acreditar? Pego minhas chaves e saio. Lá fora tudo está alegre. Algumas poucas crianças andam de bicicleta na minha rua. Ando até a esquina, atravesso uma rua perpendicular à minha. Entro na padaria, olho para a moça do caixa e de repente não sei o que dizer. Volto para o final da fila. Dois pães franceses, por favor. Dou o dinheiro, recebo meu troco. Pego o embrulho e saio, ainda disperso.
De volta à casa, não sei o que fazer com um dia inteiro pela frente não planejado. Um dia inteiro para imaginar onde estaria e não estou. Até o sol vai desistindo lá fora e o frio vai tomando conta da casa. Olho a pia da cozinha: sequer tenho uma louça por lavar que ocupe meus pensamentos. Ou, pelo menos, minhas mãos. Maria deixou tudo com cheiro de limpo e um bilhete: "tem carne na geladeira". Preparo um café forte e sento-me à mesa. Ficarei aqui esperando o dia a escoar?
Passo manteiga no pão ainda quente. Tudo demora. O dia demora. A vida demora como se estivesse suspensa. Fico angustiado. Como se saber que vou viver as próximas horas nessa espera negada fosse um anúncio de morte.
Tomo meu café sem alegria. Resolvo voltar ao livro e leio até o meio da tarde quando a fome e a lembrança da carne na geladeira me tiram a concentração. Olho o relógio e felicito-me: passaram-se horas. Esquento a comida e me sinto triste, solitário nesse apartamento. Sequer convivo com Maria, sei de seus filhos, exatamente onde mora, o que faz quando não está aqui. Ela chega quando estou quase saindo e vai embora antes que eu retorne. Sequer converso com Maria. Sequer sei de suas necessidades. Esse pensamento estranho me perturba.
Sento-me à mesa e almoço só, como em todas as tardes de sábado. Lavo a louça bem comportado, enxugo os pratos. Então o telefone toca. Fico paralisado por alguns segundos. Depois enxugo as mãos no pano de prato colorido. Sento-me no escritório: "Alô?". Ela me sorri do outro lado. Desculpa-se brevemente por não ter ligado no dia anterior como combinado, diz simplesmente: "não deu". Como se pudesse amenizar toda a minha espera. Sorrio de volta e passo as mãos pelos cabelos, sorrindo, bobo. Ela parece ter tanto a me dizer...
domingo, junho 18, 2006
Fred - A Sexta Estrela de Teófilo Otoni
Fui assistir ao jogo na casa de uns amigos mineiros. Um deles é de Teófilo Otoni, quase Bahia, o que lhe confere um sotaque um tanto quanto... particular. Eis que parte da família está lá e foi ótimo conhecê-los. O primeiro tempo foi aquilo: deu pro gasto. Como o narrador gostou de repetir no jogo anterior "o importante é ganhar". Em se tratando de jogo de copa, não vamos discutir.
Então, no segundo tempo, mais precisamente faltando uns 5 minutos pra acabar o jogo eis que o técnico faz uma substituição e entra o jogador Fred. O pessoal de pronto subiu no sofá e começou a pular: "Fredão! Fredão! Fredão!". Fiquei refletindo alguns instantes sobre minha ignorância futebolística num momento tão importante: "Quem diabos é Fredão?!". Ora, Fredão é a sexta estrela de Teófilo Otoni, vejam vocês, embora tenha sido dito que ele gosta de mentir que é de BH. Fredão entrou em campo e foi logo marcando. Depois perguntado pela jornalista se ele tinha estrela, disfarçou, foi humilde, disse que a bola foi parar nos pés dele, e foi mesmo... Mas Téofilo Otoni sabe que Fredão tem muita estrela...
Então, no segundo tempo, mais precisamente faltando uns 5 minutos pra acabar o jogo eis que o técnico faz uma substituição e entra o jogador Fred. O pessoal de pronto subiu no sofá e começou a pular: "Fredão! Fredão! Fredão!". Fiquei refletindo alguns instantes sobre minha ignorância futebolística num momento tão importante: "Quem diabos é Fredão?!". Ora, Fredão é a sexta estrela de Teófilo Otoni, vejam vocês, embora tenha sido dito que ele gosta de mentir que é de BH. Fredão entrou em campo e foi logo marcando. Depois perguntado pela jornalista se ele tinha estrela, disfarçou, foi humilde, disse que a bola foi parar nos pés dele, e foi mesmo... Mas Téofilo Otoni sabe que Fredão tem muita estrela...
É Domingo É Domingo É Domingo
Então...
Cecília começa sua história e me conta o que tem feito
no Rio de Janeiro.
Adélia adora o Rio, me diz:
"Acho o Rio de Janeiro uma beleza".
Sim, eu sei. Digo.
Também estes versos me guardam.
Ou guardo eu a eles?
Marcelo me conta coisas.
Várias novidades.
Agora é uma tarde de domingo e ainda tomamos café na mesa.
Café forte e pouco açúcar.
A casa está cheia.
Mas ali na cozinha
somos só nós.
Cecília começa sua história e me conta o que tem feito
no Rio de Janeiro.
Adélia adora o Rio, me diz:
"Acho o Rio de Janeiro uma beleza".
Sim, eu sei. Digo.
Também estes versos me guardam.
Ou guardo eu a eles?
Marcelo me conta coisas.
Várias novidades.
Agora é uma tarde de domingo e ainda tomamos café na mesa.
Café forte e pouco açúcar.
A casa está cheia.
Mas ali na cozinha
somos só nós.
segunda-feira, junho 12, 2006
Procurando encontrar é que perco
Que fazes destas palavras?
Apenas invólucros de teus pensamentos.
Abre, despetala, desembrulha.
Desfaz, aos poucos,
porque tudo cansa,
esse labirinto insano que criaste.
Estou aqui
estou te ouvindo.
Mas já não sei por quanto tempo.
Apenas invólucros de teus pensamentos.
Abre, despetala, desembrulha.
Desfaz, aos poucos,
porque tudo cansa,
esse labirinto insano que criaste.
Estou aqui
estou te ouvindo.
Mas já não sei por quanto tempo.
sexta-feira, junho 09, 2006
A Palavra É Luz
O homem abre a boca
pouca
e solta palavras como um fio. Iluminado.
As palavras brilham.
pouca
e solta palavras como um fio. Iluminado.
As palavras brilham.
quinta-feira, junho 08, 2006
"Agitos" da Semana
Essa semana começou super bem com a palestra da Adélia Prado na Letras & Expressões em Ipanema. Fiquei sabendo em cima da hora, corri pra lá e quase não consegui entrar. Mas entrei. Entrei e fiquei segurando as lágrimas nos olhos enquanto Adélia discorria, em seu mineirismo firme, sobre a paixão pela palavra. Cheguei já na hora das perguntas. Mas não me perguntem sobre o que ela disse. Fiquei tão emocionada que nem sei... Só guardei o som da sua voz recitando simples "O Casamento": "Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva".
Terça foi o dia de resistir ao dia em si e ir assistir Los Hermanos no Circo. Foi ótimo, apesar do cansaço que agora eu estou sentindo. :) Show animado como sempre e o público cantando do início ao fim. Muito bonito. Eu e Pe adoramos!
E sexta tem Movimento inVerso! Do meu amigo Alexis Sauer. Essa semana é sobre Poesia Erótica. Na rua Vinícius de Moraes, 190 apto 3 em Ipanema. A entrada é 5 reais e no final todo mundo pode dar sua canjinha... :) Parece ótimo!
Terça foi o dia de resistir ao dia em si e ir assistir Los Hermanos no Circo. Foi ótimo, apesar do cansaço que agora eu estou sentindo. :) Show animado como sempre e o público cantando do início ao fim. Muito bonito. Eu e Pe adoramos!
E sexta tem Movimento inVerso! Do meu amigo Alexis Sauer. Essa semana é sobre Poesia Erótica. Na rua Vinícius de Moraes, 190 apto 3 em Ipanema. A entrada é 5 reais e no final todo mundo pode dar sua canjinha... :) Parece ótimo!
domingo, junho 04, 2006
A Palavra nos Enlaça
Ontem, sábado à noite, fui ver o pessoal da Escola Lucinda de Poesia Viva se apresentar na Renovar em Ipanema. O Recital foi sobre Mario Quintana - o poeta passarinho... E além das lindas palavras ditas por lá foi bom também reencontrar alguns colegas da turma do Workshop: Natália - linda, linda de cabelinhos curtos, Nelson, Leila, Henrique (ei! será que o Bagunçando não volta mesmo? hunf...) e Alexis que anda por aí organizando altos eventos. Aliás, assim que ele me mandar a divulgação oficial da coisa eu publico aqui.
Por enquanto, fica o poema abaixo na minha memória com a voz firme da Claudia:
De gramática e de linguagem
E havia uma gramática que dizia assim:
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”.
Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão.
Amigo ou adverso... João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom, mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...
Mario Quintana
Por enquanto, fica o poema abaixo na minha memória com a voz firme da Claudia:
De gramática e de linguagem
E havia uma gramática que dizia assim:
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”.
Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão.
Amigo ou adverso... João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom, mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...
Mario Quintana
quarta-feira, maio 31, 2006
À Espera
Disse que me ligaria às nove. Sentei-me à mesa do escritório e esperei. Fiquei por minutos observando os algarismos efêmeros do relógio digitalizando a minha espera. Faltavam quinze minutos para às nove. Era cedo ainda. Mas eu inteiro me concentrava na espera. Esperar era tudo que eu poderia fazer...
À medida que a hora combinada se aproximava, eu ficava mais nervoso. A tensão percorria todos os músculos da minha face e pesava sobre meus ombros. Depois pensei: ela não ligará às nove em ponto. Vi os dois últimos algarismos se transformarem então e a hora combinada chegou. Fixei os olhos no telefone imóvel. A tensão chegou a um nível máximo e depois de alguns segundos se dissipou. Sim, ela não ligaria exatamente às nove, pensei.
Estaria ela, neste momento, contabilizando os minutos sensatos que deveria esperar para que não fosse extremamente pontual? Ao pensar nisso concluí que telefonaria às nove e quinze. E então pus-me a esperar. Esperar era tudo que eu podia.
A nova hora chegou. E de novo mirei o telefone. Ele continuou impassível ao meu desespero. Mudo. Sombrio. Misterioso. Do outro lado da linha, que linha?, havia alguém, ou não haveria?!
Então me distraí com os livros sobre a mesa. Abri um a esmo, li algumas linhas. Linhas sublinhadas tortuosamente a lápis. Reconheci minha grafia de muito tempo. Abri outro e mais outro. As linhas se repetiam e já nos livros mais novos não havia. Ainda não li este, pensei. E a curiosidade de ler a última linha me invadiu novamente como quando eu era criança. Não lerei, resisti. Olhei de novo o relógio. Controlava-me o relógio. O tempo me mirava. Havia transcorrido então trinta preciosos minutos de espera. Esperar... Eram nove e quarenta e cinco da noite.
Abri um livro de poemas. Sempre me prometi uns estudos de estilo que nunca realizei. Preciso organizá-los pensei. Posso fazer isso enquanto espero. Então levantei-me, com algum custo então, porque o peso da espera se acumulou em minhas pernas, e arrematei alguns livros na estante. Alguns tinham notas de rodapé, outros dobraduras e outros ainda, clipses. Quantas vezes comecei isso antes? Não importa. Começar. Apenas começar. Organizei os livros, reli meus poemas preferidos. Invejei as frases que jamais comporia.
Olhei de novo o relógio. Mais meia hora. Eram dez e quinze da noite. Um pouco mais, eu pensei. Esperar era tudo. Talvez tenha se atrasado, ocorrido algum imprevisto. Imprevisível, pensei. Este telefone está prestes a tocar, sei disso há mais de uma hora e mesmo assim, quando ele tocar, levarei um susto. Agora então não conseguia relaxar. Os algarismos sonolentos do relógio zombavam de mim, de minha espera. Moviam-se com lentidão. Então fixei meus olhos neles. Naquele arrastar incansável das horas. E fiquei assim por muito tempo. Até que despertei de repente daquele entre-sono em que me encontrava e passava de meia noite. A rua silenciava lá fora o fim de mais um dia. Um longo dia de espera. Alguns cachorros começavam a latir solidários na madrugada. Passava de meia noite.
Foi então que eu compreendi: ela não ligaria.
À medida que a hora combinada se aproximava, eu ficava mais nervoso. A tensão percorria todos os músculos da minha face e pesava sobre meus ombros. Depois pensei: ela não ligará às nove em ponto. Vi os dois últimos algarismos se transformarem então e a hora combinada chegou. Fixei os olhos no telefone imóvel. A tensão chegou a um nível máximo e depois de alguns segundos se dissipou. Sim, ela não ligaria exatamente às nove, pensei.
Estaria ela, neste momento, contabilizando os minutos sensatos que deveria esperar para que não fosse extremamente pontual? Ao pensar nisso concluí que telefonaria às nove e quinze. E então pus-me a esperar. Esperar era tudo que eu podia.
A nova hora chegou. E de novo mirei o telefone. Ele continuou impassível ao meu desespero. Mudo. Sombrio. Misterioso. Do outro lado da linha, que linha?, havia alguém, ou não haveria?!
Então me distraí com os livros sobre a mesa. Abri um a esmo, li algumas linhas. Linhas sublinhadas tortuosamente a lápis. Reconheci minha grafia de muito tempo. Abri outro e mais outro. As linhas se repetiam e já nos livros mais novos não havia. Ainda não li este, pensei. E a curiosidade de ler a última linha me invadiu novamente como quando eu era criança. Não lerei, resisti. Olhei de novo o relógio. Controlava-me o relógio. O tempo me mirava. Havia transcorrido então trinta preciosos minutos de espera. Esperar... Eram nove e quarenta e cinco da noite.
Abri um livro de poemas. Sempre me prometi uns estudos de estilo que nunca realizei. Preciso organizá-los pensei. Posso fazer isso enquanto espero. Então levantei-me, com algum custo então, porque o peso da espera se acumulou em minhas pernas, e arrematei alguns livros na estante. Alguns tinham notas de rodapé, outros dobraduras e outros ainda, clipses. Quantas vezes comecei isso antes? Não importa. Começar. Apenas começar. Organizei os livros, reli meus poemas preferidos. Invejei as frases que jamais comporia.
Olhei de novo o relógio. Mais meia hora. Eram dez e quinze da noite. Um pouco mais, eu pensei. Esperar era tudo. Talvez tenha se atrasado, ocorrido algum imprevisto. Imprevisível, pensei. Este telefone está prestes a tocar, sei disso há mais de uma hora e mesmo assim, quando ele tocar, levarei um susto. Agora então não conseguia relaxar. Os algarismos sonolentos do relógio zombavam de mim, de minha espera. Moviam-se com lentidão. Então fixei meus olhos neles. Naquele arrastar incansável das horas. E fiquei assim por muito tempo. Até que despertei de repente daquele entre-sono em que me encontrava e passava de meia noite. A rua silenciava lá fora o fim de mais um dia. Um longo dia de espera. Alguns cachorros começavam a latir solidários na madrugada. Passava de meia noite.
Foi então que eu compreendi: ela não ligaria.
quarta-feira, maio 24, 2006
Uma Manhã Gelada de Julho
Você vinha só sem subterfúgios. Vinha com aquele sorriso no canto dos olhos. Como sempre viera, da maneira que eu o esperava.
E assim, de te olhar e te sentir aproximando-se eu sorri. Sorri porque soube com o meu coração que era o tempo. É agora, pensei. Pensei sem palavras daquela maneira que eu tento explicar mas você ri e eu me calo. Mas foi assim embora você não entenda. É agora, pensei assim sem as palavras. E então você veio sorrindo - era uma manhã gelada de julho mas o sol brilhava tímido. Pouca coisa nos aquecia. Mas era amor aquilo.
E assim, de te olhar e te sentir aproximando-se eu sorri. Sorri porque soube com o meu coração que era o tempo. É agora, pensei. Pensei sem palavras daquela maneira que eu tento explicar mas você ri e eu me calo. Mas foi assim embora você não entenda. É agora, pensei assim sem as palavras. E então você veio sorrindo - era uma manhã gelada de julho mas o sol brilhava tímido. Pouca coisa nos aquecia. Mas era amor aquilo.
sábado, maio 06, 2006
Da Delicadeza
Oferece-me esta rosa que seguras. Dá-me algo que te faça falta mas que o contentamento da generosidade recompense. Aprende a ser menos por si e passa a ser mais pelos outros. Também. Às vezes.
Não dói amar até que nos doa o próprio peito. Porque amar é sempre essa dor delicada. Desejada. Deliciosa.
Aprende a ler nos momentos as alegrias desse cotidiano efêmero em que vives. Transforma. Renova.
Aproveita...
Entrega-te.
Não dói amar até que nos doa o próprio peito. Porque amar é sempre essa dor delicada. Desejada. Deliciosa.
Aprende a ler nos momentos as alegrias desse cotidiano efêmero em que vives. Transforma. Renova.
Aproveita...
Entrega-te.
sexta-feira, abril 28, 2006
Maratona Quintana
terça-feira, abril 25, 2006
Quando não há mais
Ele enxugou suas lágrimas e disse que ficariam assim unidos para sempre. Mas algo se partira - irreversível. Olhou nos olhos dele e soube que as promessas eram verdadeiras. Mas ainda assim nada foi salvo.
Era tarde. Queria que de tudo aquilo restasse o consolo de ser: livre.
Era tarde. Queria que de tudo aquilo restasse o consolo de ser: livre.
Eram Lindos os Girassóis *
Que poderia mais dizer?! Apenas que eram lindos os girassóis...
* Para Carla, cujas palavras iluminam...
* Para Carla, cujas palavras iluminam...
terça-feira, abril 18, 2006
Um Dia Chuvoso de Junho
Chovia. Choveu o dia todo. Às vezes, cabelos desgrenhados e arrastando os chinelos pela casa, olhava pela janela. A chuva triste ia escorrendo sem tréguas. Queria arrumar a casa, telefonar para Ana, fazer uma comida gostosa mas o ânimo ia escorrendo-lhe sem pressa. Deitou-se na cama, abriu o livro de capa azul e retomou a leitura. Lá fora o som da chuva incessante. As janelas fechadas e aquele ar gelado de junho. Choveu o dia todo.
quinta-feira, abril 06, 2006
Luísa e Seus Olhos de Diamante
Fim
Luísa esbofeteia algumas palavras em meu rosto. Sofro em silêncio sua indelicadeza.
Luísa exaspera-se comigo porque vê em mim reticências de si mesma.
Luísa esbofeteia algumas palavras em meu rosto. Sofro em silêncio sua indelicadeza.
Luísa exaspera-se comigo porque vê em mim reticências de si mesma.
sábado, março 18, 2006
Luísa e Seus Olhos de Diamante
III
Levantou-se, percorreu os poucos metros do aposento reconhecendo aquele lugar. Súbito me envergonhei pela desordem habitual. Luísa já não era habitual. Já não reconhecia ali, em mim, nenhum traço de um passado seu, de uma vida que ela deixou para trás tantos anos antes.
Fiquei perplexa. Eu mesma já não podia reconhecer Luísa. Seu rosto duro e sombrio.
A única coisa que me parecia estranhamente familiar eram seus olhos de diamante.
Levantou-se, percorreu os poucos metros do aposento reconhecendo aquele lugar. Súbito me envergonhei pela desordem habitual. Luísa já não era habitual. Já não reconhecia ali, em mim, nenhum traço de um passado seu, de uma vida que ela deixou para trás tantos anos antes.
Fiquei perplexa. Eu mesma já não podia reconhecer Luísa. Seu rosto duro e sombrio.
A única coisa que me parecia estranhamente familiar eram seus olhos de diamante.
segunda-feira, março 13, 2006
Cartas a Pedro
Soube que os dias andam frios por aí. Aqui faz o calor de sempre mas as nuvens de março amenizam o clima certas tardes.
Ando a escrever-te coisas sem sentido, meu amigo, e peço que me perdoes. Mas quanto mais falo-te sobre nada mais a sensação de que estou a dizer-te tudo quanto é imprescindível me invade. Porque nessas palavras está tudo quanto quero dizer-te.
Bem sabes que sinto falta de teus humores. E mesmo de teu desânimo. Porque és sobretudo humano. Talvez demasiado. E todos por aqui parecem sempre tão ocupados que não posso compreender. As conversas são sempre as mesmas e não posso encenar essa trama cotidiana. Começam a estranhar-me no escritório porque saio sempre só. Prefiro assim. Alguns dias sequer faço minha refeição. Apenas ando pela cidade observando as árvores, o vento escasso que ainda corre nesses dias quentes de verão. E penso que preciso disso. Preciso desses passeios para constatar que tudo está como antes. Ou, pelo menos, para começar a me acostumar com o que há de novo.
Fico por aqui, caro amigo. Espero que esta carta venha a encontrar-te com saúde.
A.
Ando a escrever-te coisas sem sentido, meu amigo, e peço que me perdoes. Mas quanto mais falo-te sobre nada mais a sensação de que estou a dizer-te tudo quanto é imprescindível me invade. Porque nessas palavras está tudo quanto quero dizer-te.
Bem sabes que sinto falta de teus humores. E mesmo de teu desânimo. Porque és sobretudo humano. Talvez demasiado. E todos por aqui parecem sempre tão ocupados que não posso compreender. As conversas são sempre as mesmas e não posso encenar essa trama cotidiana. Começam a estranhar-me no escritório porque saio sempre só. Prefiro assim. Alguns dias sequer faço minha refeição. Apenas ando pela cidade observando as árvores, o vento escasso que ainda corre nesses dias quentes de verão. E penso que preciso disso. Preciso desses passeios para constatar que tudo está como antes. Ou, pelo menos, para começar a me acostumar com o que há de novo.
Fico por aqui, caro amigo. Espero que esta carta venha a encontrar-te com saúde.
A.
quarta-feira, março 08, 2006
Dia Internacional da Mulher
Hoje ao chegar no trabalho, recebi muitas parabenizações pelo Dia Internacional da Mulher.
Eu e praticamente todas as minhas colegas de trabalho. Confesso que fiquei sem graça. Parabéns pelo que?
Esse dia me pegou no meio de um turbilhão de pensamentos que têm me perturbado muito ultimamente. Esse turbilhão foi alimentado porque no último final de semana assisti ao filme "Terra Fria" que fala justamente sobre a luta pelos direitos das mulheres. É fato que essa luta avançou bastante. Mas, algo que me preocupa há muito assim como na questão do preconceito em geral: o quanto estamos avançando AGORA?
Hoje, como é bastante comum num dia 8 de março ouvi alguns homens comentarem: "sim, porque o resto dos dias é nosso". E parece que é mesmo. Aliás, parece que todo mundo esqueceu, justamente hoje, que o dia da mulher é um dia de luta. O simples fato de existir um dia das mulheres já é em si, para mim, um fato bem triste. Assim como a necessidade da existência das delegacias especiais de atendimento à mulher. Aliás, a cada 4 minutos, no Brasil, uma mulher é violentada. Agora, enquanto escrevo esse texto. A cada 15 segundos uma mulher sofre algum tipo de agressão no Brasil. Falando de coisas mais sutis: li hoje no jornal que 91,3% das mulheres que trabalham realizam afazeres domésticos. Contra apenas 46,3% dos homens.
Todos os dias vemos e ouvimos piadinhas, comentários desnecessários etc. Na maior parte dos casos, eles advém dos homens. E temos que baixar a cabeça para eles, porque são os seres mais racionais do universo - eles é que são eficientes e concentrados. Se uma mulher protesta contra esse tipo de comportamento no ambiente de trabalho, das duas uma: ou ela é histérica ou é louca. Muitos homens quando questionados sequer admitem que existe tratamento diferenciado entre homens e mulheres. Talvez, se pudessem ser mulheres por um dia no ambiente de trabalho, eles percebessem...
Para onde estamos avançando? Para um machismo disfarçado, escondido, não admitido nem percebido? Como algo que não é discutido pode ser combatido?
Por isso, hoje, em primeiro lugar eu peço desculpas aos poucos amigos que vêm até aqui ler o que escrevo. Peço desculpas porque sempre quis que este fosse um lugar agradável, com coisas bonitas ou sensíveis de se dizer... Mas hoje... Hoje eu vou dar parabéns apenas as pessoas que merecem. Aos homens que nos tratam com respeito e às mulheres que não se desrespeitam. Que não riem de piadas machistas e que educam seus filhos para serem homens de verdade. Às mulheres que um dia foram agredidas mas que correram atrás dos seus direitos e denunciaram. À todas as mulheres que lutam. E apenas a estas: parabéns.
Eu e praticamente todas as minhas colegas de trabalho. Confesso que fiquei sem graça. Parabéns pelo que?
Esse dia me pegou no meio de um turbilhão de pensamentos que têm me perturbado muito ultimamente. Esse turbilhão foi alimentado porque no último final de semana assisti ao filme "Terra Fria" que fala justamente sobre a luta pelos direitos das mulheres. É fato que essa luta avançou bastante. Mas, algo que me preocupa há muito assim como na questão do preconceito em geral: o quanto estamos avançando AGORA?
Hoje, como é bastante comum num dia 8 de março ouvi alguns homens comentarem: "sim, porque o resto dos dias é nosso". E parece que é mesmo. Aliás, parece que todo mundo esqueceu, justamente hoje, que o dia da mulher é um dia de luta. O simples fato de existir um dia das mulheres já é em si, para mim, um fato bem triste. Assim como a necessidade da existência das delegacias especiais de atendimento à mulher. Aliás, a cada 4 minutos, no Brasil, uma mulher é violentada. Agora, enquanto escrevo esse texto. A cada 15 segundos uma mulher sofre algum tipo de agressão no Brasil. Falando de coisas mais sutis: li hoje no jornal que 91,3% das mulheres que trabalham realizam afazeres domésticos. Contra apenas 46,3% dos homens.
Todos os dias vemos e ouvimos piadinhas, comentários desnecessários etc. Na maior parte dos casos, eles advém dos homens. E temos que baixar a cabeça para eles, porque são os seres mais racionais do universo - eles é que são eficientes e concentrados. Se uma mulher protesta contra esse tipo de comportamento no ambiente de trabalho, das duas uma: ou ela é histérica ou é louca. Muitos homens quando questionados sequer admitem que existe tratamento diferenciado entre homens e mulheres. Talvez, se pudessem ser mulheres por um dia no ambiente de trabalho, eles percebessem...
Para onde estamos avançando? Para um machismo disfarçado, escondido, não admitido nem percebido? Como algo que não é discutido pode ser combatido?
Por isso, hoje, em primeiro lugar eu peço desculpas aos poucos amigos que vêm até aqui ler o que escrevo. Peço desculpas porque sempre quis que este fosse um lugar agradável, com coisas bonitas ou sensíveis de se dizer... Mas hoje... Hoje eu vou dar parabéns apenas as pessoas que merecem. Aos homens que nos tratam com respeito e às mulheres que não se desrespeitam. Que não riem de piadas machistas e que educam seus filhos para serem homens de verdade. Às mulheres que um dia foram agredidas mas que correram atrás dos seus direitos e denunciaram. À todas as mulheres que lutam. E apenas a estas: parabéns.
sábado, março 04, 2006
Luísa e Seus Olhos de Diamante
II
As palavras de Luísa eram duras demais para alguém que a tinha esperado por tantos anos. E eu esperei Luísa por muitos anos.
As palavras de Luísa eram duras demais para alguém que a tinha esperado por tantos anos. E eu esperei Luísa por muitos anos.
terça-feira, fevereiro 21, 2006
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Luísa e Seus Olhos de Diamante
I
Luísa olhou-me com seus olhos de diamante - duros e insondáveis. Depois, atirou-me pequenas verdades dolorosas. Mas já não me olhava: tinha-os fixos em alguém incrustado na parede dos fundos.
Por vezes desviei - incrédula - os meus olhos naquela direção. Quem estava ali naquela parede que eu bem conhecia? Quem Luísa mirava enquanto disparava - rifle em punho mirando o alvo - aquelas duras palavras?
Luísa olhou-me com seus olhos de diamante - duros e insondáveis. Depois, atirou-me pequenas verdades dolorosas. Mas já não me olhava: tinha-os fixos em alguém incrustado na parede dos fundos.
Por vezes desviei - incrédula - os meus olhos naquela direção. Quem estava ali naquela parede que eu bem conhecia? Quem Luísa mirava enquanto disparava - rifle em punho mirando o alvo - aquelas duras palavras?
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
Aprendendo a ser feliz
Quando o sorriso se abrir
(eu te prometo)
nesse exato momento
vai se abrir o sol.
Não este sol que nos aquece no verão
mas aquele dentro de ti que faz o sorriso então
tornar-se
real.
(eu te prometo)
nesse exato momento
vai se abrir o sol.
Não este sol que nos aquece no verão
mas aquele dentro de ti que faz o sorriso então
tornar-se
real.
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
Silente
O teu silêncio atravessa o Atlântico,
atravessa as paredes deste cômodo.
Posso ouvi-lo daqui: ele me desperta.
Abro os olhos, ainda está escuro.
Sei que estás calado.
atravessa as paredes deste cômodo.
Posso ouvi-lo daqui: ele me desperta.
Abro os olhos, ainda está escuro.
Sei que estás calado.
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
Poesia Viva
Ela está ali bem perto... Como se fosse alguém cotidiano.
Não é.
A poesia de Elisa me persegue em minha memória desde a adolescência. Conhecê-la agora e poder aproveitar e desfrutar do talento que ela tem não só - como se fosse pouco - para escrever como também para falar poesia realmente me abastece.
Hoje, no final da "aula" eu, aluna dedicada, pedi desculpas pela tietagem... Mas é que eu tenho esse livro há anos, eu o dei de presente para o meu marido quando ainda éramos namorados e se eu chegar em casa sem esse autógrafo... ah... sei não!
Então Elisa abriu o livro e viu, cor de rosa, o poema dedicatória que eu fiz pro maridão. Me pediu para eu ler, já que a letra não ajudava, e eis que eu me abaixei ali ao seu lado para dizer humildemente aqueles meus versos de menina.
Se a poesia de Lena Jesus Ponte queria beber na biquinha do quintal de Adélia Prado, a minha queria apenas fazer escola com Elisa Lucinda. E faz. Por que não?!
Não é.
A poesia de Elisa me persegue em minha memória desde a adolescência. Conhecê-la agora e poder aproveitar e desfrutar do talento que ela tem não só - como se fosse pouco - para escrever como também para falar poesia realmente me abastece.
Hoje, no final da "aula" eu, aluna dedicada, pedi desculpas pela tietagem... Mas é que eu tenho esse livro há anos, eu o dei de presente para o meu marido quando ainda éramos namorados e se eu chegar em casa sem esse autógrafo... ah... sei não!
Então Elisa abriu o livro e viu, cor de rosa, o poema dedicatória que eu fiz pro maridão. Me pediu para eu ler, já que a letra não ajudava, e eis que eu me abaixei ali ao seu lado para dizer humildemente aqueles meus versos de menina.
Se a poesia de Lena Jesus Ponte queria beber na biquinha do quintal de Adélia Prado, a minha queria apenas fazer escola com Elisa Lucinda. E faz. Por que não?!
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Tocando em frente?
Entro no táxi e o motorista me pergunta se o rádio está alto, se deve ligar o ar, qual pista ele tem que pegar... Aceno ora positiva ora negativamente esperando que ele veja os sinais-resposta pelo retrovisor. Ando sem palavras para dizer. Mas começa essa música e então entendo que já não preciso tentar, que o que pressinto já foi dito aqui...
Tocando Em Frente
"Ando devagar porque ja tive pressa
E levo esse sorriso porque ja chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe?
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei
E nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor para poder pulsar
É preciso paz para poder sorrir
É preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada
Eu sou...e pela estrada eu vou...
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor para poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir
Todo mundo ama um dia todo mundo chora
Um dia a gente chega o outro vai embora
Cada um de nos compõe a sua história
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz"
Almir Sater e Renato Teixeira
Tocando Em Frente
"Ando devagar porque ja tive pressa
E levo esse sorriso porque ja chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe?
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei
E nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor para poder pulsar
É preciso paz para poder sorrir
É preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada
Eu sou...e pela estrada eu vou...
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor para poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir
Todo mundo ama um dia todo mundo chora
Um dia a gente chega o outro vai embora
Cada um de nos compõe a sua história
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz"
Almir Sater e Renato Teixeira
sexta-feira, janeiro 13, 2006
A Cafeteria
Sentou na mesa e pediu um café. Ficou observando a mesa de madeira escura enquanto adoçava o café. Estava mais quente que de costume. Mas havia muito tempo que não vinha até ali e que já não tomava aquele café. Sorveu devagar saboreando o ambiente.
Olhou para os lados observando os poucos clientes que estavam no café àquela hora da tarde. Aos poucos, sons conhecidos invadiram suas lembranças de um outro tempo quando todos estavam presentes ali e as conversas voavam soltas como pipas.
Éramos muito felizes - pensou.
Olhou para os lados observando os poucos clientes que estavam no café àquela hora da tarde. Aos poucos, sons conhecidos invadiram suas lembranças de um outro tempo quando todos estavam presentes ali e as conversas voavam soltas como pipas.
Éramos muito felizes - pensou.
Onde Estiver
O seu silêncio me fere
estranhamente.
Preciso da sua presença
mesmo que silenciosa.
Do seu olhar
e de suas frases desencontradas demais das minhas.
Dessa proximidade de mentes que nos une
e eu não entendo.
Nem você...
Preciso sobretudo do seu riso
de sua alegria
às vezes tão rara.
Queria poder lhe ofertar
isso que trago aqui comigo
e que é essa certeza
de que tanta coisa em você
é bela
e vale a pena.
Mas isso eu não posso te dar
porque -
faz parte -
você mesmo tem de achar.
estranhamente.
Preciso da sua presença
mesmo que silenciosa.
Do seu olhar
e de suas frases desencontradas demais das minhas.
Dessa proximidade de mentes que nos une
e eu não entendo.
Nem você...
Preciso sobretudo do seu riso
de sua alegria
às vezes tão rara.
Queria poder lhe ofertar
isso que trago aqui comigo
e que é essa certeza
de que tanta coisa em você
é bela
e vale a pena.
Mas isso eu não posso te dar
porque -
faz parte -
você mesmo tem de achar.
O que toca por aqui
O Vencedor
Olha lá, quem vem do lado oposto vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são escravos sãos salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder é ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais
ser um vencedor
levo a vida devagar
pra não faltar amor
Para você
me diz que não
vive a esconder
o coração
Não faz isso amigo
já se sabe que você
só procura abrigo
mas não deixa ninguém ver
Por que será?
Eu que nunca fui assim
muito de ganhar
junto as mãos ao meu redor
faço o melhor
que sou capaz
só pra viver em paz
Los Hermanos
Olha lá, quem vem do lado oposto vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são escravos sãos salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder é ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais
ser um vencedor
levo a vida devagar
pra não faltar amor
Para você
me diz que não
vive a esconder
o coração
Não faz isso amigo
já se sabe que você
só procura abrigo
mas não deixa ninguém ver
Por que será?
Eu que nunca fui assim
muito de ganhar
junto as mãos ao meu redor
faço o melhor
que sou capaz
só pra viver em paz
Los Hermanos
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